Daniel Campos

Prosas

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13/04/2013 - Acordei atrasado

Acordei e o café já tinha esfriado. Acordei e o carteiro já tinha passado. Acordei e o cachorro já tinha passeado. Acordei e o galo já tinha cantado. Acordei e o telejornal já tinha acabado. Acordei e deus já tinha me abandonado. Acordei e o sonho já tinha me escapado. Acordei e o chefe já tinha me ligado. Acordei e minha mulher já tinha me beijado. Acordei e o sol já estava escaldado. Acordei e o jardim já tinha murchado. Acordei e o defunto já tinha sido enterrado. Acordei e o dia já tinha sido rezado. Acordei e a sorte já tinha me procurado e me deixado. ...
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12/04/2013 - Coréia de mísseis

Como ficarão os sonhos ainda não realizados depois dos mísseis da Coréia? O que vai ser dos casais apaixonados depois dos mísseis da Coréia? Quando as crianças vão dormir sem medo de não acordar depois dos mísseis da Coréia? Como vão ficar as ligações depois dos mísseis da Coréia? O que farão os pássaros depois dos mísseis da Coréia? Quem catará e juntará e colará os estilhaços de humanidade depois dos mísseis da Coréia?

Mísseis que desafiam a vida e a morte. Mísseis que levam o fim. Mísseis de choro. Mísseis de viuvez. Mísseis de gritos. Mísseis que colocam deus em xeque. Mísseis de histeria. Mísseis rasantes, cadentes, incandescentes. Mísseis com remetente e destinatário. Mísseis da separação. Mísseis que rompem destinos. Mísseis que espalham vírus nucleares. Mísseis que nos marcam de guerra. Mísseis que descriam a terra.


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11/04/2013 - Sobre a dor

Dói o tempo que sobra para não doer. Dói essa felicidade incompleta. Dói esse medo de viver. Dói, o nó da rotina dói. Dói a sina de enterrar tantos sonhos. Dói a falta de oportunidade. Dói o que não deu certo. Dói o que não era para ser. Dói a quebra da ilusão. Dói o silêncio doido. Dói o que nos é proibido. Dói o que nos foi vencido.

Dói a guerra que não cessa. Dói o remendo do coração. Dói a sombra que ronda. Dói a fiada do destino. Dói o olhar fundo, dói. Dói o parto da fantasia. Dói a saudade incontida. Dói a estrada do desencontro. Dói o susto da realidade. Dói o pesadelo não desvendado. Dói a construção descontruída. Dói o adeus anunciado....
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10/04/2013 - Menino partido

Desde nascido, o menino queria partir. Partir para fora do útero. Partir para além da bolsa. Partir nas mãos da velha parteira. Partir no colo de mãe, pai, tia, avô... Partir para além dos limites do berço. Partir em busca da vida que era sua e de mais ninguém. Partir se arrastando, engatinhando, andando. Partir caindo e se levantando. Partir numa ânsia recém-nascida. Partir impulsionado pelo desconhecido. Partir de improviso. Partir na crença de uma profecia. Partir colocando a alma na boca do vento. Partir de fora para dentro e vice-versa. Partir com fome de mundo. ...
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09/04/2013 - Considerações cotidianas

Toda escuridão nasce de uma fraqueza da luminosidade. O silêncio é conseqüência do excesso de barulho. A individualidade surge de uma brecha do coletivo. Nem toda vela queima até o fim, algumas chamas acabam antes do pavio. Em certos casos, remédios fazem aumentar a dor. Nem todo destino é prescrito por algum deus. A falta de tempo é tão abstrata quão o próprio tempo. Em meio à luta por sobrevivência, o cachorro mia, o gato late. A insônia crônica é resultado da carência de sonhos.

As mudanças externas e internas são parte do encontro de movimentações. O mau-humor se esconde atrás de um sorriso. Todo anjo já emergiu do limbo. Todo demônio já fez uma boa ação. O bem nem sempre precisa vencer o mal para uma história ter final feliz. Todo par de asas um dia se fecha. A perfeição, para ser realmente perfeita, precisa ter um toque de imperfeição. A maçã do amor, dependendo da mordida, pode ser a maçã da separação. Todo inverno, por mais frio que seja, guarda lembranças de febre. O final é a outra face do começo.


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08/04/2013 - Com os pés no espaço

Eu quero ser abduzido por algum extraterrestre. Eu quero ser levado desta terra. Eu quero receber a escritura de uma casa em Vênus. Eu quero me casar nos anéis de Saturno. Eu quero conversar com São Jorge na lua. Eu quero me aninhar em uma estrela. Eu quero pegar carona num cometa. Eu quero aventuras espaciais.

Eu quero tocar nos signos, influenciar os horóscopos. Eu quero acompanhar uma chuva de meteoros sem ter medo de enchentes. Eu quero mergulhar na imensidão do espaço sem risco de congestionamento. Eu quero que meus problemas se incendeiem na atmosfera terrestre. Eu quero viajar na velocidade da luz. ...
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07/04/2013 - Rio de batucada

Contra os males do mundo, faça um samba de amor. Um samba que fale de corações flechados, de bocas unidas, de mãos dadas pela estrada. Um samba de corda, de sopro e de percussão. Um samba pra rua, pra avenida, pro morro, pro quarto. Um samba com o alcance de um romance. Um samba que verse sobre paixões impossíveis, invencíveis, incríveis. Um samba cantado de dentro pra fora e também de fora pra dentro. Um samba entoado com convicção como um hino. Um samba de buscas e procuras, de encontros e desencontros. Um samba de pegada, que arrepia a criatura amada. Um samba visceral, ancestral, fatal. Um samba de entrega, que não se nega a ninguém. Um samba que sirva como alento aos peitos vazios. Um samba que mova as águas do passado ao longo do curso do rio nascido de uma batucada. ...
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06/04/2013 - Matadeira

Mata, mata a minha fome com seu açúcar. Mata, mata o que me consome se fazendo de maluca. Mata, mata a minha fobia sem remédios. Mata, mata o meu borrão de tédio. Mata, mata a minha fantasia de carnaval. Mata, mata o meu sobrenome ancestral. Mata, mata o meu arvoredo com seus tratores. Mata, mata o meu medo de invasores. Mata, mata o meu verde com seu excesso de cor. Mata, mata a minha lembrança sem eu lhe propor. Mata, mata a minha sede de cachaça. Mata, mata o meu eu criança no meio da praça.
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05/04/2013 - O violeiro leva

O violeiro leva pelo menos uma dúzia de romances na ponta dos dedos. O violeiro leva a estrada no solado da sua botina. O violeiro leva o que viu do tempo no fundo dos olhos. O violeiro leva o som dos bichos muito bem guardado. O violeiro afina cada corda de sua viola de acordo com o som de um “eu te amo” dito por uma mulher. O violeiro leva uma penca de saudades na aba de seu chapéu. O violeiro leva pontas de estrela para presentear suas amadas.

O violeiro leva ponteios em seu coração de ponto. O violeiro leva pássaros em suas toadas. O violeiro leva trens em seus destinos. O violeiro leva chuva para bocas desertas. O violeiro leva uma cantiga para a roda. O violeiro leva o adeus no corte do canivete. O violeiro leva causos para o redor de uma fogueira. O violeiro leva luas como quem leva uma garrafa de cachaça. O violeiro leva fagulhas de desejo no aço das cordas. O violeiro leva o silêncio como deus leva o diabo.


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04/04/2013 - Heróis?

Heróis choram, na maior parte das vezes, escondido. Heróis têm sono pesado. Heróis têm carne e osso. Heróis se vendem. Heróis ajoelham. Heróis têm medo. Heróis reclamam. Heróis nem sempre fotografam bem. Heróis comem porcaria. Heróis cospem e arrotam. Heróis jogam lixo no chão. Heróis envelhecem. Heróis pecam. Heróis bebem, fumam e se drogam. Heróis caem no anonimato.

Heróis têm mal-humor. Heróis traem. Heróis se divorciam. Heróis não guardam segredos. Heróis dão de ombros. Heróis têm rugas, olheiras e celulite. Heróis abusam de seus super-poderes. Heróis se escondem atrás de seus super-poderes. Heróis não são nada além de seus super-poderes. Heróis engordam. Heróis violam as regras. Heróis morrem sem cerimônia. Heróis têm seu momento vilão.


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