Daniel Campos

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10/04/2013 - Menino partido

Desde nascido, o menino queria partir. Partir para fora do útero. Partir para além da bolsa. Partir nas mãos da velha parteira. Partir no colo de mãe, pai, tia, avô... Partir para além dos limites do berço. Partir em busca da vida que era sua e de mais ninguém. Partir se arrastando, engatinhando, andando. Partir caindo e se levantando. Partir numa ânsia recém-nascida. Partir impulsionado pelo desconhecido. Partir de improviso. Partir na crença de uma profecia. Partir colocando a alma na boca do vento. Partir de fora para dentro e vice-versa. Partir com fome de mundo.

Partir em direção ao tempo que lhe chamava. Partir aconselhado por sua bússola interior. Partir para longe do sangue, do sobrenome, da ancestralidade. Partir numa ruptura de histórias e elos. Partir para ser dono do seu destino. Partir para romances e aventuras que não cabiam naqueles contos de ninar. Partir em nome de sonhos ainda não vividos. Partir guiado por estrelas partidas. Partir cada vez que fosse proibido de partir. Partir antes de se apegar demais, de ter raízes demais, de fraquejar. Partir antes que a vida lhe partisse em tantos pedaços.


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