Daniel Campos

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01/07/2013 - Minha fé exige respeito

Vivemos em um estado laico, ao menos, era para ser assim. A tolerância religiosa deve ser praticada em todos os campos e esferas desse país, seja em casa, no trabalho ou nas ruas. Não há liberdade quando há sofrimento de qualquer tipo de assédio ou desrespeito religioso. Não afronto ninguém com a prática da minha fé, que é feita com silêncio e discrição quando estou em meu local de trabalho, por exemplo. Não tento convencer ninguém a se juntar a mim, tampouco constranjo, assedio ou intimido quem não segue o meu caminho espiritual. ...
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30/06/2013 - Hoje tem jogo

Hoje tem jogo entre a vida e a morte no beco do ladrão. Hoje tem jogo entre o azar e a sorte na roleta do cassino. Hoje tem jogo de amor sob os lençóis da lua. Hoje tem jogo entre mocinho e bandido fora da televisão. Hoje tem jogo de alforria para os que gritam por liberdade. Hoje tem jogo de mais valia para quem dá o suor pelo pão. Hoje tem jogo de palavras na boca do profeta. Hoje tem jogo de disse-me-disse na soleira do muro. Hoje tem jogo de cintura para sobreviver. Hoje tem jogo de botão entre uma casa e outra da blusa. Hoje tem jogo entre deus e o diabo na cabeça do homem. ...
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29/06/2013 - Eis o flamenco

De repente, os pés, do alto de seus saltos pretos e avermelhados, golpeiam o chão como se fossem exus. Ora são passos sutis como um sopro ora são passos enérgicos como um grito. São movimentos fortes e intensos que buscam a quebra de limites entre silêncios e aplausos. Tudo é tão desafiador e convidativo. O flamenco vaza dos olhos, da boca, da pele da bailarina, que emociona e sensibiliza sem perder o fôlego já perdido pela plateia.

Em poucos instantes, ruas e prédios, árvores e carros, pedestres e cachorros estão hipnotizados pela mobilidade da bailarina que desafio o mundo em suas panturrilhas. Uma arte viva regada a ritmo, técnica e capacidade aeróbica. Uma coreografia dramática que chega a tourear. Enquanto sentimentos são expressados em uma dança sedutora, as expressões pingam como suor por entre passos e palmas dentro do tempo.


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28/06/2013 - 68 anos de maluquice geral

O maluco beleza que nasceu há dez mil anos atrás completaria hoje, 28 de junho de 2013, 68 anos de existência terrena se ele não tivesse pegado o trem das sete com destino a um céu entre brumas de mil megatons. Se bem que é provável que Raul Seixas não tenha morrido. Ele pode facilmente, com o seu poder de metamorfose ambulante, ter se transformado em qualquer coisa nascida a partir da mistura de sua maluquez com sua lucidez.

Talvez ele esteja em mais uma aventura na cidade de thor ou nas minas do rei salomão. O canceriano sem lar pode estar em qualquer lugar. Dentre tantas incertezas é certo que o carpinteiro do universo inteiro deve estar por aí a querer consertar o que não pode ser. Como vovó já dizia, o cowboy fora da lei não pode ser censurado, parado, domado... Anda, canta, ama, dança, fuma, voa por aí sem medo da chuva e pousando em tantas sopas....
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27/06/2013 - Uma dama de luta, em luta e para a luta

Por entre o universo de damas de ferro, damas de vermelho, damas do mar e damas da lotação, eis que atua a dama de luta. Uma dama que levanta bandeiras, que fala no megafone, que faz piquetes sem perder a feminilidade. Aliás, a luta dessa dama é forjada em séculos de resistência feminina. Uma dama intrigante, que dá a luz às discussões filosóficas e ações práticas com a mesma paixão libertária e revolucionária – a paixão pela transformação.

Uma dama que assume, com toda coragem, a defesa pelo que é justo, pelo que é de direito, pelo que é humano. Uma dama que jamais perdeu a capacidade de se indignar. Uma dama com a força da mãe que protege seus filhos independentemente do risco. Uma dama movida por um marxismo apaixonado, por um lenismo lírico, por um hegelismo dramático. Sheila Tinoco, a nossa Che Guevara de saias. Uma guerrilheira feita de rosas e trovas. ...
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26/06/2013 - Oswaldo mago Montenegro

Há imagens que, de imediato, reviram a memória, trazendo emoções e lembranças ainda desconhecidas. Oswaldo Montenegro, com aqueles olhos negros que contrastam com a brancura de seus cabelos longos e da barba por fazer, traz à tona o sentimento de um mensageiro. Mais do que uma condição, estar de passagem para Oswaldo Montenegro é uma sina. Uma espécie de cavaleiro que passa a pé. A montaria, no caso desse trovador, é o tempo. O tempo que, ao seu comando, anda para trás e para frente, e até para o lado ou para cima e para baixo, ou para direções ainda não descobertas, com a mesma fluidez. Parece mágica, mas é Oswaldo Montenegro, que se vestiu de cigana para cantar o sol. ...
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25/06/2013 - Convite a Mandela

Mandela, pegue o primeiro vôo com destino ao Brasil. Antes de dar por encerrada sua missão heróica, tem mais uma tarefa esperando por você. Por aqui, do outro lado do Atlântico Sul, as pessoas se levantaram. E se levantaram com bandeiras, com desejos, com esperanças. O nosso povo está nas ruas lutando por liberdade. São brancos e negros de mãos dadas por um Brasil livre. São devotos e filhos de santo no mesmo coro por um país forjado na bravura e na indignação de sua gente.

Tata Madiba, enquanto não chega esse avião, grite daí que é preciso respeitar os direitos humanos de quem está nas ruas. São balas e prisões tentando calar a voz dos que não têm voz. São militantes de um novo tempo. São ideiais de carne e osso. São políticos e intelecutais tentando compreender uma pátria em ebulição. A consciência do brasileiro eclodiu de modo que todo dia é dia de Mandela, dia de valorizar a liberdade, a justiça e a democracia. É dia de refundar o Brasil. ...
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24/06/2013 - Flores de Mangueira

Mangueiras floridas por todos os lados como fogos de São João. Flores pequeninas e agrupadas como grãos de néctar. Com toda magia, a floração do doce antecede a própria primavera. Os olhos se perdem por entre os cachos de flores e encontram cuícas, surdos e pandeiros. Salve Beth Carvalho, Alcione e Maria Bethânia, flores legítimas de Mangueira. Salve a Estação Primeira que dá sabor ao samba. Salve as mangas rosa, espada, ubá, manteiga... Salve Roberta Sá, Leci Brandão e Clementina de Jesus. Flores de tamborim. Flores de cavaquinho. Flores de alegoria. Flores cantantes. Flores passistas. Flores pela avenida, pelo morro, pela cidade, pela roça... ...
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23/06/2013 - Nem toda, nem todo

Nem toda guerra é de pólvora. Nem toda rosa é de espinho. Nem toda pedra é de sal. Nem toda onda é de Iemanjá. Nem todo trovão é de chuva. Nem toda fome é de comida. Nem toda arte é de aplauso. Nem toda maçã é de amor. Nem toda linha é de destino. Nem todo enredo é de samba. Nem todo pecado é de confissão. Nem todo anjo é de luz. Nem toda sombra é de morte. Nem toda cachaça é de beber. Nem toda saudade é de passado.

Nem toda lua é de fase. Nem toda nuvem é de algodão. Nem todo sorriso é de palhaço. Nem toda revolução é de ideias. Nem todo sentimento é de corte. Nem toda dor é de remédio. Nem toda caminhada é de caminho. Nem toda estrela é de brilho. Nem toda fera é de ataque. Nem toda dança é de encontro. Nem todo cálculo é de exatidão. Nem toda orquestra é de som. Nem todo santo é de procissão. Nem toda partida é de chegada.


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22/06/2013 - Velho boiadeiro

Pelas estradas da lembrança, os aboios de um boiadeiro que passa solitário. Passa no meio de centenas de cabeças de gado. Gado bonito, bem cuidado, que espalha seu colorido pelo estradão de terra. Aqueles cascos batendo contra o chão chegam a levantar uma poeira cujo gosto, apurado na língua, é de uma saudade extra-virgem. O boiadeiro, ora em cima de um cavalo aprumado ora no chão faz movimentos de um maestro que tem como batuta um galho seco.

Em ritmo compassado, a boiada vai marcando estrada e deixando sentimentos pelo ar. Sentimentos de um tempo que rompe as barreiras cronológicas. Vacas em branco e preto, garrotes dourados, novinhas avermelhadas, touros negros vão se misturando ao verdume da paisagem que parece escorrer, como água de mina, dos olhos daquele boiadeiro. Os aboios que deixam sua boca são tristes e fortes ao mesmo tempo. Aboios que colocam respeito e emocionam até as pedras do caminho. ...
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