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Encontrados 254 textos. Exibindo página 3 de 26.
Para além do espelho
- Oi.
Silêncio.
- Eu acho que não nos conhecemos?
Silêncio.
Silêncio.
- Você se lembra de mim?
Silêncio.
Silêncio.
Silêncio.
- Você está de passagem?
Silêncio.
Silêncio.
Silêncio.
Silêncio.
Você não vai dizer nada, não é?
Silêncio.
Silêncio.
Silêncio....
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17/01/2010 -
Para além dos estádios
Domingo e estádios de futebol criaram laços difíceis de serem separados. Eu nunca fui apaixonado por gramados cercados por arquibancadas de concreto. Tanto que só entrei em um estádio ao longo de minha vida. E não foi Maracanã ou Morumbi, mas Wilson Fernandes de Barros. Um estádio para pouco mais de vinte mil pessoas erguido em uma cidade que tinha um público, no máximo, quatro vezes maior que isso.
O nome do estádio fazia referência ao principal patrocinador do clube – Barros Auto Peças. O seu Wilson, um português, tomou o time como seu e levou o sapo (mascote do clube) a grandes saltos. Levado por meu pai, eu vi Rivaldo marcar um gol do meio campo, vi os dribles de Leto, os chutes de Válber e ainda saboreei muito picolé de groselha e amendoim em casca. ...
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02/06/2010 -
Para além dos limites
Cheguei ao limite. Aliás, acho que já ultrapassei o limite em alguns passos. Tudo agora parece mais complexo. Ah! Como seria mais fácil caminhar com os pés no chão. Mas eu quis viver com a cabeça nas nuvens. Meu pai queria que eu fosse doutor advogado servidor de carreira. Porém, eu escolhi sonhar. Ou melhor, os sonhos me escolheram como poeta. E não troco os meus romances por nada. Prefiro os meus personagens a muitas pessoas de carne e osso. Aliás, sempre preferi ficção à realidade.
Por isso dou duro para transformar o dia-a-dia em ilusão. Não é fácil viver um conto, uma crônica, um poema por dia. Mas eu tento e invento um caminho paralelo, um violoncelo no meio da rua, um olhar que flutua em outro olhar, um astronauta apaixonado por um escafandrista trocando beijos entre o mar e o luar. Viver transformando pedra em coração é uma tarefa desgastante, angustiante, apaixonante. Por isso, cheguei ao limite. De agora em diante não sei o que mais pode acontecer. ...
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29/05/2010 -
Para além dos pãezinhos
O tempo passa e tudo se atualiza. A onda de modernidade atingiu as padarias. Além do design fashion das fachadas, prateleiras modernas para pães e vitrines requintadas para frios e doces. Paredes com textura, mesas agradáveis e decoração com tons de atualidade invadiram o lugar. Há pão de tudo quanto é jeito e café mais incrementado. Além de outras opções no cardápio dignas de um bistrô, como sanduíches e pratos mais elaborados.
Encaro com certa nostalgia essa mudança das padarias. Lembro do meu tempo de criança em que os pães bengala (os franceses chegaram depois) eram oferecidos aos clientes numa espécie de cesto de palha. Os pães - perdoem-me os incrédulos - tinham outro gosto. Hoje, os pães não resistiram ao feito artesanal rendendo-se à lucratividade do processo industrial. Hoje as máquinas substituem a mão do artista, no caso, do padeiro. ...
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23/10/2013 -
Para dormir
Para dormir, ela conta carneirinhos, pede sono pro seu protetor e canta baixinho uma canção de amor. Para dormir, ela faz beicinho, abraça o lençol e vira o travesseiro. Para dormir, vai fundo nas lembranças, volta ao tempo de criança, cria um espaço vazio e se joga nele. Para dormir, ela busca o lado mais escuro do quarto, inventa histórias de ninar e pede calma. Para dormir, ela toma calmantes naturais, imagina mensagens zodiacais e cede às tentações.
Para dormir, ela revive contos de fada, brinca de cinema mudo, apaga os vagalumes ao seu redor. Para dormir, ela traz a lua para perto, brinca com as estrelas, afasta todos os pensamentos negativos. Para dormir, ela embrulha a cabeça, pede um tempo aos fantasmas, ilude-se com promessas e planos impossíveis de serem cumpridos. Para dormir, ela inverte a lógica das coisas, muda o sentido da estrada e tenta um acordo indecoroso com o tempo.
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15/09/2013 -
Para e deixa
Para com essa canseira. Deixa de canseira. De maluquice. De bobeira. De tolice. De burrice. De tonteira. De esquisitice. Deixa de atrasar a vida dos outros. Para de falar sobre o que não lhe diz respeito. Deixa de alfinetada. De carta marcada. De conversa fiada. De dar em nada. Para com esse mau-comportamento. Deixa de falta de educação. De ranger os dentes. Deixa de reclamar. De torcer contra. De azucrinar. De desgostar. De maldizer. De enfeitiçar.
Para com essa mania. Deixa de enlouquecer. De brigar. De entorpecer. De cutucar. De não fazer. De reclamar. Deixa de ficar agourando, envenenando, maldando tudo e todos. Deixa de olho gordo. Deixa de por quebranto. Deixa de desencanto. Para de ficar de descaso. Deixa de dor de cotovelo. Deixa de procurar pelo em ovo. Para de ser um estorvo. Deixa de engodo. Deixa de amargor. De causar dor. De acabar com o dia causando alergia, azia, hemorragia...
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09/12/2010 -
Para isso, aquilo
Para uma estrada sem fim, pés por asas de querubim. Para um amor se limite, homens e mulheres também sem limite. Para uma fruta madura, água na boca. Para uma realidade tediosa, uma noite louca. Para um vento solteiro, uma ventania. Para um sabor esquecido, uma lembrança. Para a falta de esperança, uma criança. Para um vestido, um nu. Para um girassol, um sol a girar. Para uma lua, um balão que flutua.
Para lábios ausentes, o conselho dos sábios. Para um carnaval fora de época, uma atitude sapeca. Para um edifício, um precipício. Para um naufrágio, um sufrágio. Para um sentimento que não se estanca, a eternidade. Para uma reza, a cura. Para um quadro de amor, um fado. Para uma prateleira de livros, olhos. Para um barzinho e um violão, o espanto da solidão. ...
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21/09/2011 -
Para lhe ver sorrir
Vou a Paris pedir pessoalmente para Claude Monet lhe pintar um sorriso impressionista. Hei de percorrer Ipanema até que Vinícius de Moraes lhe escreva um sorriso-soneto como era o seu, livre de qualquer métrica? Será que Mikhail Baryshnikov lhe ensinaria a sorrir na ponta dos pés? Quem sabe Tom Jobim não tenha um sorriso-canção inédito entre as teclas de seu piano. Com sorte, Mario Lago, vai lhe dizer como encenar um riso farto, capaz de convencer sua alma do estado de uma pseudofelicidade.
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19/08/2012 -
Para o dia de hoje
Para o dia de hoje há previsão de sonhos cadentes, daqueles que caem no jardim da gente como estrelas desejadas, observadas por lunetas e bocas apaixonadas. Para o dia de hoje o impossível tende a ser possível no mais incrível conjunto de possibilidades que já se viu por essas cidades. Para o dia de hoje estão ensaiados atos e mais atos improvisados. Para o dia de hoje vestidos, bolsas e sapatos se tornam simplesmente dispensáveis, pois os destinos mais amáveis andam completamente nus.
Para o dia de hoje há uma inversão de papéis e sentidos revirando céus e assuntos proibidos. Para o dia de hoje trouxeram uma loucura especial, como daquelas que explodem no carnaval, no natal, no círio pascal. Para o dia de hoje as criaturas mágicas como fadas e feiticeiras estão no roteiro. Para o dia de hoje há uma trilha sonora recém-nascida. Para o dia de hoje há uma procissão de amantes seguindo rumo à consolidação do amor. Para o dia de hoje há previsão de mais e muito mais do que mais ousar sonhar.
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08/01/2015 -
Para perto de si
Chama-me para perto de si. Perdoa a minha distância e me aceita debaixo de sua saia. Chama-me para seus cuidados. Entoa nosso amor, novamente nosso amor, nosso amor mais que iluminado. Chama-me para seus sóis alaranjados. Deixa novamente minha vida se enroscar na sua. Chama-me de maldito, de bendito, deixa o dito pelo não dito. Desata o nó do meu coração. Chama-me para um último primeiro beijo. Faça todo e qualquer rito que leve à paz entre nossas bocas. Chama-me para romper o silêncio. Impeça que nossos retratos virem pó. Chama-me para velar o que ficou. Desista de tentar deixar o que não terminou. Chama-me de covarde. Venha me dar um sopro da sua coragem. Chama-me de pecador, mas não despreze um corpo que queima do seu mais puro amor. Chama-me para perto de si. E que tudo mais seja de repente, reticências e por favor.
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