Daniel Campos

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Encontrados 45 textos. Exibindo página 4 de 5.

13/09/2011 - Insolação

Fugir do sol deixou de ser um capricho assim como viver às sombras, na sombra de algo ou alguém, não é mais motivo de crítica. Escapar do brilho do astro é uma necessidade fundamental. Um fator vital para a continuidade da espécie. Os raios violetas castigam, ferem, matam. O calor sufoca. Há um abafamento generalizado solto por aí.

Ao contrário dos corpos dourados, a moda evidencia os corpos pálidos. Enquanto o desejo esquenta, as cores frias refrescam os olhos alheios. O que está em alta é a refrescância das mulheres drops de hortelã. Para os corações de uísque, incluindo os dos caubóis, pedras e mais pedras de gelo. Entram em cena os perfumes cítricos. ...
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25/12/2010 - Inspiração de Natal

Uma das maiores alegrias de minha avó era colocar os cartões que recebia de parentes, amigos, lojas e vizinhos em sua árvore de Natal. Era uma prova de que era lembrada, amada, agraciada por um universo de pessoas. E ela se sentia feliz em poder reunir corações que andavam distantes nas mesmas galhas de sua árvore branca como neve. A cada cartão recebido, um novo sorriso estampado em seu rosto.

Havia anos em que os cartões eram muitos e não cabiam nas galhas, ficando aos pés da árvore. E os cartões eram grandes e pequenos; coloridos e preto e branco; industriais e artesanais. Independentemente de tamanho, formato, tipo ou assinatura, ela tinha um carinho especial por todos eles. E mesmo com seu pouco estudo, punha-se a ler e a reler os votos daqueles que lhe felicitavam por dias a fio. ...
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20/04/2011 - Invenção de deus

E então deus inventou você. Para conceber essa invenção, inspirou-se em romances que havia lido na adolescência. Com pitadas de pimenta e pedaços de chocolate, inventou uma mulher no meio do inverno. Uma mulher quente pra se ficar abraçado numa noite fria ou num dia daqueles de céu carregado de chuva. Deus inventou você em caráter de urgência, num instante de carência, numa total inocência.

Deus inventou você num ôfuro ou no furor da criação. Não quietou enquanto não a fez perfeita. Enquanto lhe inventava, cantava cantigas de amor. No entanto, mesmo no auge da cantoria, não se esqueceu de colocar algumas meadas de silêncio em sua alma. Eis a razão dessa mulher que de repente se cala mesmo vestida de palavras. Porque Deus lhe deu camadas e mais camadas de tecidos sobrepondo crônicas, poesias, contos... ...
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15/01/2012 - Invocação

Eu invoco a energia dos meus ancestrais, sejam eles vampiros, lobisomens, bruxas ou magos. Por todo sangue derramado, por toda magia feita e desfeita nas linhas da minha linhagem. Pelas vítimas e pelos heróis. Pelos genes dos anjos e dos demônios que se entrelaçam em meu DNA. Pelos encantos, feitiços e maldições que habitam em mim. Pelas marcas de nascença, pela trajetória sobrenatural, por todo mistério que há, houve e haverá. Pela luz que me ilumina e pela força que me esconde. Pelos meus eus plebeu, escravo, soldado, poeta e conde. Pelo eterno conflito entre o bem e o mal, entre o carnal e o espiritual, entre o cordeiro e o chacal. ...
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Ipê amarelo

Hoje o dia vai amanhecer como outros domingos. Cor de sol, perfume de pão, canto de galo, grito de criança, conversa na esquina... Mas o vento de agosto vai acentuar o que não tem nome, mas que se acostumou a se chamar de saudade. Ah! Como é triste o vento de agosto. Ah! Como dói o vento de agosto. Ah! Como grita o vento de agosto. Como é difícil estar longe quando se é tão perto.

Hoje, a lembrança fica ainda mais forte. Hoje, em tudo há um quê de falta. Falta um abraço, um beijo, um olhar... Mas nessas faltas, tudo se faz presença. Um sabor, um texto, um gesto... Dos detalhes mais simples faz-se o encontro. Hoje, vou ligar aquele radinho de pilha. Hoje, talvez eu faça carne moída. Detalhes... E são tantos encontros no espelho. As imagens se confundem. E é como se nos encontrássemos para além do espelho. Eis a beleza do sentimento. Ele existe para além do físico, do palpável, do concreto. ...
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12/07/2015 - Ipê rosa

Olha quanta prosa pelas ruas. Árvores nuas. Buquês rosas. Vê os ipês. Crê no poder das cores que explodem e eclodem amores. Pelos canteiros de ipês há tanto querer. São beijos rosados, corados, vingados de amor. São flores altas voando feito condor. São amores doces beijados de bico em bico que o diga o senhor beija-flor. São árvores de claves de sol e de lua. Entre pés de ipê, dentre homem e mulher, minha boca encontra a sua.


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19/02/2008 - IPTU x IMAP

Se deus criou o mundo, o demônio criou o IPTU. Será que há mais de quinhentos anos, índio pagava IPTU da oca pro cacique? Já pensou? Toc toc. Sr. Cauré, estou aqui em nome da secretaria especial de tributos da tribo para medir aquele puxadinho que foi feito semana passada. A nova área construída será acrescida no valor do seu Imposto Predial e Territorial Urbano. Lembre-se: pagando seu imposto em dia você contribui para as melhorias da nossa aldeia. Ou seria para garantir o bem-estar do cacique, que desvia tais verbas para sua promoção pessoal?...
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25/04/2013 - Ir embora

Ir embora para não voltar. Ir embora para além-mar. Ir embora para se achar. Ir embora aos braços de romance. Ir embora entregue ao vento. Ir embora por caminhos desconhecidos. Ir embora confiando em seu santo. Ir embora quebrando qualquer quebranto. Ir embora sem bagagem. Ir embora mesmo que seja proibido. Ir embora para dimensões paralelas. Ir embora sem saber o que lhe espera.

Ir embora para não chorar. Ir embora para poder continuar. Ir embora para brotar em outro lugar. Ir embora sem medo do que vai encontrar. Ir embora seguindo seu axé. Ir embora sem remorso. Ir embora cantando, sonhando, amando, dançando e se dando. Ir embora num passe de mágica. Ir embora sem maiores planos. Ir embora à deriva. Ir embora sem se importar com o fim da estrada. Ir embora e mais nada. ...
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Iroko i só! eeró! (trecho I)

"Iroko i só! eeró!
Ao contrário de um costumeiro olá, boa tarde, como vai... Iroko i só! eeró! É assim que aquela senhora de sorriso envelhecido como os óleos de uma natureza morta saúda e gosta de ser saudada. Só que essa saudação não acontece à capela e sim acompanhada do longo rangido de uma porteira, que mesmo com algumas de suas vértebras trincadas pelo tempo, dava acesso à entrada principal e única da chácara daquela mulher que leva um colar de contas verdes musgo e riscadas de marrom em seu pescoço magro. O cenário, com um quê de Hitchcock e outro de Dostoievski, é um prato cheio para os amantes do cinema e da literatura. ...
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Iroko i só! eeró! (trecho II)

"O sol continua escondido entre nuvens negras e longas quando ela me convida a entrar, agora dentro de sua casa. Mas o vento não dava indicações de chuva. Além de soprarem do sul, tinham um sabor seco. Ao terminar o último dos seis degraus, mais uma vez, minhas retinas se dividem entre luzes e sombras. Na sala da casa sem forro, dezenas e dezenas de velas. Velas coloridas. Toda aquela parafina queimada causa um cheiro que chega a queimar as narinas. Não consigo encontrar televisão, aparelho de som, abajur... Enfim, não consigo encontrar o menor sinal de energia elétrica. Apenas as velas. Uma poltrona forrada de pano verde e um sofá cinza de três lugares tratam de povoar a sala. Em destaque, sob um móvel escuro, uma escultura de Iroko, entalhada em madeira de gameleira. Iroko era o orixá daquela mulher que podia ter muitas preocupações, menos a de varrer a casa. Espalhadas pelo chão, uma infinidade de folhas secas da tal árvore da porteira. O vento deveria ser forte para trazê-las até ali."


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