Daniel Campos

Se eu morrer de amor


2003 - Prosa

Editora Auxiliadora

Resumo

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Chamamento

De repente, como aquela promessa que os sonhos sempre lhe fizeram e que já dava por vencida, ela surge. Se ela fosse uma promessa, ela seria cumprida quando não se acreditasse mais. Se ela viesse por uma rua deserta, quando ela passasse a rua se encheria de lembranças. Saudades de todas as formas e tamanhos. Se ela surgisse do nada como surgem coisas que não se explicam ninguém se assustaria. Impossível se assustar com uma presença, a primeira vista, tão leve. O que importa é que ela surge com os olhos cheios de mar e céu.

Se ela existisse, seria demais. Se ela amasse, deveria ser como um conto apaixonado escrito por um escritor não menos apaixonado. Surge como uma personagem de ficção de um romance não terminado. Transformaria arranha-céus e construções modernas em castelos. Castelos de magos, de mulheres que sonham e esperam por alguém que jamais encontraram. Haveria sempre um "quê" de drama em seus olhos. Haveria sempre uma saudade e uma solidão. E haveria sempre alguém a lhe chamar num chamamento típico das seitas mais secretas.

Chama pela mulher sem nome. Chama pela promessa que cobre esta mulher. Chama pelas palavras que nunca conseguiram encontrar para defini-la. Chama pelos horizontes que se perdem naqueles olhos. Por todo e com todo respeito e desejo, chama. Chama pelas luzes imprecisas daquele cabelo. Chama pelo mais delicado dos gestos. Chama pelo rosto que anuncia a chegada de mais um amanhã. Chama a esperança de um amanhã. Chama pelos passos que se encaixam num desenho mais que perfeito e fazem um caminho singular. Chama pela fragilidade que nos fragiliza. Chama pela chama da feminilidade que habita aquela mulher. Chama como se chamasse por algum deus. Chama como se ela fosse capaz de ouvir. Chama e imagina o seu riso leve correndo a rua. Chama de todas as formas. Chama pela primeira lembrança que aparecer em sua frente. Chama pela sua presença e pela sua ausência. Chama como chamaram tantos. Chama de um jeito recém-nascido.

Chama, em chamamento e em sentimento, e se ela surgir (em toda sua chama), indiscutivelmente, ama.


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