Daniel Campos

Poesias

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Encontrados 2480 textos. Exibindo página 56 de 248.

27/05/2015 - Clareou

Dona sinhá
Botou ovo no muro
Falou pra Santa Clara
Clarear, clarear, clareá
E do céu todo escuro
Veio um raio de luz
Que começou a rodar
A rodar, a rodar, a rodá
Foi Clara Nunes que raiou
Cantou, girou e clareou
Deixa clarear, clarear, clareá
Dona sinhá gostou e dançou
E virou o mundo no seu congá
Láláiaá lá ialá láláiá láláiá


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26/05/2015 - A lua do sertão

A lua do sertão
Se veste de xote
E tem por mote
Ser noiva de João

A lua do sertão
Tem um xaxado
E um véu bordado
Nem toca o chão

A lua do sertão
Pula sete fogueiras
E tem assanhação
De sinhá faceira

A lua do sertão
Quebra-queixo
Nos tira do eixo
Não sabe dizê não


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25/05/2015 - Coração folião

Ai meu irmão
Meu coração
Nasceu pra violão
Mas apanha
Tal tamborim
Em noite de folia
Ai e me arranha
Como uma cuíca
Cujo gemido fica
E, ai, me assanha
Como fantasia
De pobre que mal cobre
A intimidade
Com retalhos
De um pulsar
Que vai além
Da saudade que me ganha

Ai meu irmão
Chora no meu cavaco
Deixa mudo meu surdo
Bota alegria a vácuo
Joga confete e serpentina...
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23/05/2015 - Quebra-cabeça coração

Eu deixei de ser à toa
E agora sou um homem
Que para além da fome
Sente que pode voar
E do alto do precipício voa
E ao fim do sonhadeiro voa
E entre dois mundos voa
Voa em busca das partes
Perdidas, proibidas, partidas
Fazendo da busca uma arte
Indo sem lastro ou embaraço
Ao encontro dos tantos pedaços
Do quebra-cabeça do coração
Só que ao contrário de passos
Esse homem se joga e voa
Num voo que não é à toa ...
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22/05/2015 - Pelas cobertas

Quando o frio lá fora me aperta
Corro pra debaixo das cobertas
Fazendo da cama minha fortaleza
Entro em lençóis e lãs feito tatu
Cavando fundo e mais fundo
Em busca da quentura do mundo
E então o coração se aquieta
Ou não e eu fico de todo nu
E parece não haver mais tristeza
Num calor que chega me transpira
E me inspira a suar minha solidão
Botando pra fora essa alma fria
Que no suador sai e me arrepia


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21/05/2015 - E o hoje o que é?

O cerne da questão é que hoje
Preferimos o ontem e ontem
Queríamos apenas o amanhã

E quando enfim chegávamos
No amanhã nós sonhávamos
Só com o depois do amanhã

Ora, que coisa é essa agora
Que não sossega o coração
Perdido no tempo de ilusão

O tempo, cerrado nevoeiro,
Nubla nossas vistas e ilude
Pois a nossa vida é no hoje

E o hoje o que é senão a divisão
Irracional, imaginária e real...
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20/05/2015 - Menina serpentina

Veja só, serpentina é igual menina
Se estica toda quando quer festejar
E se enrosca onde menos se espera
Num enrosco cuja sina é se quebrar
E como rama florida de primavera
A menina tal serpentina colorida
Vai voando e se jogando e enroscando
Num jogo que nem ela sabe onde vai dar
O melhor mesmo é estar solta no ar
Como se entre a partida e a chegada
Sua ilusão não pudesse ser rasgada


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19/05/2015 - Formiga cortadeira

Nossa, pelo amor de Deus,
Dona formiga cortadeira
Vá-se pra longe do meu jardim
Saúva graúda tem pena de mim
E da minha plantação de adeus
Que precisa seguir inteira
Nem adianta se assanhar
Vá fazer feira noutro lugar
Eu tenho flores a zelar
E pétalas para entregar
Por favor, dona formiga
Não me faça mais intriga
Volta pro seu formigueiro
O meu jardim não carregue
Dele não leve nem o cheiro
Deixa minhas rosas e prosas...
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18/05/2015 - Avesso a calendário

Vou me desvestir
De índio e pedir
À primeira estrela
Que acender
Um pedaço dela
Para poder juntar
Aos meus
E me fazer inteiro
Como corda
De violeiro
Como poda
De jardineiro
Vou me pintar
De índio e dançar
Até ficar tonto
No encontro
De Iara e Iemanjá
Nas águas do mar
Com o rio que corre
Ao contrário
Morre para nascer
Feito eu antiadeus
Avesso a calendário...
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16/05/2015 - Faminta

Seus dentes afiados e bem articulados
Furavam mais do que mordida de cachorro
Deixando suas marcas como se fosse Zorro
Tinha uma mordedura que era uma belezura
Mordia o mundo numa fome sem fundo
Comia nuvem, pedra, boca e até pensamento
Tudo o que via, sabia, sentia, conhecia ou não
Era de comer. Era para comer. Era seu comer.
E assim ela comia o dia e arrotava poesia
Comendo o que for e regurgitando amor
Assim era ela que não existe nesse tempo mais...
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