Daniel Campos

Prosas

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22/05/2013 - Vovó Benedita do Oriente

Salve Deus, Salve Vovó Benedita do Oriente sempre pronta a me socorrer nas horas mais trevosas. É Vovó Benedita quem coloca suas mãos sobre mim acalmando minhas aflições, desatando meus nós, limpando minha aura. É Vovó Benedita que espanta mau-olhado, corta feitiço e joga inveja para bem longe de mim. Vovó Benedita aconselha, cura e protege os fios seus. Vovó Benedita chama os caboclos para ajudar os fios seus com as linhas de passe. Vovó Benedita não desiste nem dá adeus.

Vovó Benedita vem com cabelo negro e comprido e olhos claros. Vem com turbante branco, bata amarela e pedras vermelhas que brilham feito fogo. Vem com a bandeira rósea do redentor. Vem do astral superior, com Pai Seta Branca e todo o povo do Oriente. Vem com suas mãos curadoras. Vem com sua fala mansa e firme. Vem com suas sutilezas e verdades. Vem com suas firmezas e encantarias. Vem manipulando as energias para o bem dos fios seus. Salve Vovó Benedita do Oriente, Salve Deus.


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21/05/2013 - Ninguém pode

Ninguém pode me segurar. Ninguém pode dizer onde meu caminho vai dar. Ninguém pode me negar o que é meu por direito e vocação. Ninguém pode me dizer o que é bem e o que é malfeito. Ninguém pode me apontar. Ninguém pode me julgar, tampouco me condenar. Ninguém pode me fazer ceder. Ninguém pode viver no meu lugar. Ninguém pode achar meu deus. Ninguém pode me perdoar. Ninguém pode me tatuar de adeus.

Ninguém pode protagonizar a minha história. Ninguém pode mudar as minhas memórias. Ninguém pode matar as minhas ilusões. Ninguém pode pedir o meu sangue, a minha honra, a minha glória. Ninguém pode mudar as minhas canções. Ninguém pode me procurar sem me perder. Ninguém pode me chamar sem me querer. Ninguém pode me ensinar a língua dos corações. Ninguém pode me acabar sem me começar.


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20/05/2013 - Friagem

O galo, nos amanheceres gelados, chega a cantar rouco. A cama repleta de cobertas fica ainda mais difícil de ser deixada em manhãs assim. Até os pássaros, que gostam de refestelar o clareamento dos céus, demoram mais a sair dos ninhos. O estômago pede por bebidas e comidas quentes. Os pratos precisam levantar fumaça para agradar os olhos. As roupas pesadas ganham a moda das ruas e, até, dos quartos. As fogueiras de São João são como estrelas caipiras no chão.

O vento, em tons de inverno, corta os ares de outono levando os mais carentes a pedir colo. Os restaurantes ganham em charme e requinte. As palavras ficam mais intimistas. É travada uma verdadeira guerra contra o chuveiro, que insiste em não esquentar o desejado. O calor humano torna-se a principal pedida gerando uma epidemia de namoros. O coração tenta se agasalhar como pode. A friagem, em feitio de noiva, segue por dias e noites afora com um buque de flores de São João.


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19/05/2013 - Era verdade

Era verdade que ela beijava no alto do trapézio? Era verdade que ela era amante de um deus? Era verdade que ela sabia o segredo dos mágicos? Era verdade que ela era filha de uma feiticeira? Era verdade que ela dançava com uma bailarina de caixinha de música? Era verdade que ela tinha uma estrela de estimação? Era verdade que ela conversava com os pássaros? Era verdade que ela fazia a noite ascender e o dia escurecer?

Era verdade que ela tinha asas escondidas? Era verdade que ela brincava com fantasmas? Era verdade que ela assoviava chamando pelos ventos? Era verdade que ela passava em guarda pelos anjos? Era verdade que as maçãs de seu rosto continham veneno? Era verdade que ela cortava e remendava destinos? Era verdade que ela tinha um leão interior? Era verdade que ela recebia visitas de ancestrais? Era verdade que ela existia?


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19/05/2013 - Era verdade que

Era verdade que ela beijava no alto do trapézio? Era verdade que ela era amante de um deus? Era verdade que ela sabia o segredo dos mágicos? Era verdade que ela era filha de uma feiticeira? Era verdade que ela dançava com uma bailarina de caixinha de música? Era verdade que ela tinha uma estrela de estimação? Era verdade que ela conversava com os pássaros? Era verdade que ela fazia a noite ascender e o dia escurecer?

Era verdade que ela tinha asas escondidas? Era verdade que ela brincava com fantasmas? Era verdade que ela assoviava chamando pelos ventos? Era verdade que ela passava em guarda pelos anjos? Era verdade que as maçãs de seu rosto continham veneno? Era verdade que ela cortava e remendava destinos? Era verdade que ela tinha um leão interior? Era verdade que ela recebia visitas de ancestrais? Era verdade que ela existia?


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18/05/2013 - De nada adianta

Não adianta chorar por quem não vale uma lágrima sequer. Não adianta brigar com que não merece uma fração de estresse. Não adianta acreditar em quem foge da verdade. Não adianta levantar quem gosta de morar no buraco. Não adianta defender quem não tem defesa. Não adianta falar com quem manipula suas palavras. Não adianta tomar de amor quem vai lhe apunhalar na primeira oportunidade.

Não adianta esperar quem não lhe espera. Não adianta doar para quem só sabe comprar. Não adianta ensinar a voar quem é pesado de alma. Não adianta remediar o que não quer ser curado. Não adianta rezar para quem não respeita os seus deuses. Não adianta recuperar o que quer se dar como perdido. Não adianta pedir colo para quem lhe deu as costas. Não adianta tentar com quem já desistiu.


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17/05/2013 - Paratudo

Para todo mal existe cura. Para toda dor existe conforto. Para toda tempestade existe aragem. Para toda estrada existe fim. Para todo choro existe propósito. Para toda crise existe saída. Para todo pecado existe perdão. Para todo obstáculo existe superação. Para toda treva existe luz. Para todo silêncio existe música. Para todo desespero existe alívio. Para toda angústia existe remédio. Para todo grito existe socorro.

Para toda tragédia existe amanhã. Para todo imprevisto existe improviso. Para toda guerra existe trégua. Para todo problema existe solução. Para todo adeus existe volta. Para toda moléstia existe tratamento. Para todo sacrifício existe recompensa. Para todo desencontro existe reencontro. Para toda decepção existe ilusão. Para toda vingança existe arrependimento. Para todo terror existe amor.


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16/05/2013 - O que os deuses querem de mim?

O que os deuses querem de mim? Até quando vão me colocar em prova? Quanto mais de peso vão colocar sobre meus ombros? Será que eles ainda acreditam em mim? Será que eles continuam a me ouvir? Será que pelo menos eles se recordam do meu nome?

O que os deuses querem de mim? Por que insistem em me fazer seguir essa estrada que não me leva a lugar algum? Será que os deuses brincam comigo? Será que os deuses riem de mim? Será que os deuses dão de ombros pras minhas orações?

O que os deuses querem de mim? Joelhos ao chão? Velas acesas? Confissões? Flores? Obediência? Fanatismo? Silêncio? Cigarros? Cachaça? Festejos? Fogos de artifício? Romarias? Elogios? Cânticos? Aplausos? Rezas? Sacrifícios? Danças? Homenagens? ...
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15/05/2013 - Passada

Passa por onde não passo. Passa marcando ritmo pela avenida. Passa como redemoinho mesmo que brisa. Passa num abraço longo e apertado. Passa forte, altiva, soberana mesmo que ferida. Passa com olhos de aço, mesmo chorando algodão. Passa pelas linhas do decote do tempo sem se intimidar. Passa com uma feminilidade ativa, dama das nações do faz de conta. Passa querendo passar. Passa por fronteiras, por barreiras, por territórios desconhecidos, não vencidos e até proibidos.

Passa sem se revelar. Passa criando e recriando estradarias. Passa com porte de rainha da colmeia e sorriso de plebleia. Passa fazendo plateia. Passa totalmente minha. Passa transformando as pedras do caminho em pedrarias. Passa num golpe de gravidade. Passa num ar de revolução. Passa grávida de fantasia. Passa pelas tranças do vento. Passa ditando moda na cidade. Passa falando de amor cara a cara. Passa à revelia. Passa numa floração rara. Passa aflorando o calor de sua passada.


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14/05/2013 - Vida à disposição

Que a morte não demore a chegar. Estou no fundo do poço, no fim da linha, no fio da navalha. Estou pronto para partir. Partir para mundos que permitam voos mais altos ou, simplesmente, que lhe permita um voo raso. Depois de tanta escravidão, exploração, submissão, é preciso que a vida se quebre e liberte a essência de tudo. A morte não é para os fracos, como dizem, mas para os fortes que tiveram suas forças e coragens sugadas pelo dia a dia. A morte não é uma saída ou um atalho, mas o caminho natural para a renovação. ...
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