Daniel Campos

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Encontrados 101 textos. Exibindo página 9 de 11.

Toc toc

Toc toc
Estão batendo na porta do meio
Lá onde mora seu último volteio
Que volteou de tanto amor
Guardo a sua volta
Como a penúltima nota
De um adeus sem volta

Ah! Não solta
As linhas dos sonhos de papel
São tantas saudades correndo no céu
Da tua boca
São tantas vontades loucas
Se enrolando em tua língua
E o destino – aquele amaldiçoado
Querendo me jogar à mingua

Ah! Tenho de resistir às feras...
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Tormentas

Tão linda
Ainda apela
E se faz
Mais bela
Com esse jeito
Fugaz
Tão breve
Tão intensa
Que causa tormentas
E silêncio demais.

Desencadeia delírios
Enciuma os lírios
E com lirismo
E ineditismo
Afrodisíaco
Mistura o benigno
E o indigno
Dos filhos do zodíaco.


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Torpo

Sob a luz
Da cruz escuridão
Há um vão
De céu vermelho
Por onde voa em segredo
O dragão
Do medo
Escaravelho

Ah! Menina de leão
Deixa-me passar
Pela fresta do teu joelho
E pelas ondas da solidão
Enfrentar o mar
Além do espelho
Que se forma
Na embarcação
Dos seus cabelos

Ah! Minha espera
A me evolver
No teu barco
A me sorver
Pelos reinos das feras...
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Tortura

Me machuca
Se faz de maluca
E me maltrata
Com golpes na nuca
Pedras de açúcar
E agulhas de crochê...
Me sufoca com papel marche
E não me pergunte mais
Quanto tempo faz
Que eu me lembro
De tentar lhe esquecer...
Me marca com a luz do abajur
Me queima com incenso
Me enforca nas pernas
De sua calça colã...
Me abusa...
Me usa...
Me lambuza...
Me afoga
Na espuma de um champagne...
Me enrosca...
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Tranca nas mãos

Ao olhar as árvores frondosas
Eu vejo ao meio do arvoredo
Um tranqüilo pássaro a voar
Sem possuir o medo de cair.

Prefiro beijar a solidão.

Eu também não temo o futuro
Desconheço (ou finjo) meu passado
Vivo somente o instante de glória
Sem a insensatez da desilusão.

Acaricio a ingrata ilusão.

Eu vivo no lugar dos mortos
Um consolo para as lágrimas
Não quero ser esperança
Apenas tê-la é necessário....
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Tranças

Vou começar
A trançar
Versos
Mas e se não der tempo
E se ela chegar
Antes do curió
Me avisar
O que eu faço
Corro e fujo
Com a poesia
Em tranças
Ou com a mulher
Dos olhos de âmbar
Que estou a esperar?

A poesia mora
Em mim
E a mulher
Começa não sei onde
Passa não sei onde
Tem seu fim
Onde a lua
Do conde
Do sol
Se esconde...
...
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Transfusão

Só vale a pena
Recomeçar
Se me fizerem
Uma transfusão
De memória,
Se atearem fogo
No celeiro
Das minhas lembranças
Mais pagãs,
Se apagarem
Os riscos
As provas
E tudo o que há em mim
Tarde e manhã,
Se amputarem
Meus sonhos
Que voam sem saber pra onde,
Se trancarem tudo o que sei
Em um porão
Masmorra, calabouço
Coração...

Só vale a pena
Recomeçar...
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Tratamento

Que me proibiam de lhe amar.
Que me cortem os punhos e me apaguem seus rastros.
Que me joguem nas masmorras do esquecimento.
Que me arranquem os tumores da tua saudade.
Que me dopem.
Que me coíbam.
Que me vigiem.
Que me convertam
A uma outra crença que não seja um amor
Unilateral.
Que me proíbam de ter filhos com a inspiração.
Que me condenem no Superior Tribunal do Amor
Pelo desperdício de tanto romantismo
Que me afastem de um mundo que nunca existiu...
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Tratamento de choque

Quando você se faz perto
Eu acredito
Nos sonhos
Que já iam distantes
De mim.


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Treze de maio

Antes da primeira fala
Cala-te no vazio do encontro.
Olha para o despontar do sol
Enquanto vejo a lua se acabar
Para lá de não sei onde.

Cedo, madrugada, dia
A árvore está do mesmo jeito
À primeira vista,
Mas olhe bem, as folhas são outras
O calendário, as pessoas, os silêncios
São outros.
Mas você ainda é a mesma criatura:
Calada e impura.

Mas nessa segunda-feira
Antes do sorriso costumeiro
E das primeiras falas...
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