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Encontrados 111 textos. Exibindo página 10 de 12.
17/07/2012 -
Trilhos
Sinto uma vontade imensa de partir a cada vez que lanço olhares sobre trilhos. Meus olhos, diante daqueles braços de aço estendidos ao infinito, chegam a faiscar. O coração apita qual Maria Fumaça. É uma sensação que foge do compreensível. Em vidas passadas devo ter sido maquinista ou um desses viajantes clandestinos que pulam de vagão em vagão. O fato é que com os pés entre aqueles dormentes eu me sinto o próprio trem. Um trem formado por um imenso comboio de sentimentos. Vagões e mais vagões repletos de almas. Almas de poetas, de violeiros, de pássaros, de bailarinas, de pescadores, de anjas, de estrelas, de magos e de outras criaturas mágicas. ...
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28/03/2016 -
Trincheiras e fé
Fecha comigo que nada se abrirá. Cola em mim que nada se perderá. Fica comigo que nada passará. Passa comigo e deixa o mundo para lá. Se perca comigo porque nem sempre a gente foi feito para encontrar. Abra-se comigo e vamos passar o resto da vida entre Bagdá e Calcutá.
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10/06/2010 -
Trinta anos
Há quem seja de carne e osso. Eu sou de histórias. Histórias de velho e moço. Histórias que o vento me trouxe, que me contaram e que eu inventei. Histórias do que vivi, vivo e do que hei de viver. Histórias de amor, de medo e de saudade. História da roça e da cidade. Histórias de flor, lua e segredo. Histórias vestidas e nuas, de anjo e inferno. Histórias de inverno e verão. Histórias de assombração. Histórias poéticas e de tamanha fonética. Histórias de chegadas e partidas. Histórias que brotam do chão, que caem do céu, que passam de boca em boca. Histórias de paixão louca. ...
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Trinta e nove graus
As amigas a convidavam para boates, pizzarias, cinemas, barzinhos e violões... Mas ela nunca aceitava convite algum. Preferia ficar em casas. Não via o momento de encerrar o expediente, assinar o ponto e pegar o caminho de volta. O seu trabalho no funcionalismo público, entre um amontoado de papéis monótonos era bem menos interessante do que sua casa. Não saia para nenhum hapy hour, para nenhum aniversário, para nenhum convite mais indiscreto. Era irredutível na sua volta para casa. Ninguém a entendia. Talvez nem ela. Ela até tentava, mas seu íntimo, numa relação freudiana entre ig, ego e superego, levava-a de volta para casa....
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09/12/2013 -
Triste assim
Pássaro sem canto. Grilo sem perna. Viola sem corda. Nuvem sem chuva. Faca sem corte. Palhaço sem sorriso. Árvore sem folhas. Fotografia sem rosto. Lavrador sem terra. Coração sem pulso. Rua sem saída. Casa sem morador. Papel sem escrita. Velório sem corpo. Vento sem destino. Noite sem vela. Despedida sem adeus. Fruto sem doce. Porteira sem tranca. Lobo sem lua. Doença sem cura. Relógio sem corda. Cupido sem flecha. Dor sem volta. Partida sem chegada. Lápis sem ponta. Tempo sem choro. Trem sem trilho. Beija sem flor. Fogão sem lenha. Barco sem mar. Sono sem sonho. Declaração sem valor. Caminho sem pegadas. Morte sem rosto. Andarilho sem estrada. Berrante sem boiada. Sentimento sem abrigo. Sangria sem remédio. Grito sem socorro. Príncipe sem reino. Espera sem esperança. Saudade sem rumo. Palavras sem encantaria. História sem fim.
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01/03/2016 -
Tristes considerações
Aprendi a falar tailandês para te dizer adeus na língua em que sempre sonhei me casar com você. Desencomendei o cachorro que faria festa que cada vez que você chegasse. Cancelei o financiamento da casa da árvore onde moraríamos como duas crianças crescidas. Guardei os livros não terminados com as personagens principais tendo o seu nome nas minhas gavetas. Chorei de uma vez o que choraria nos aniversários da sua partida. Desafinei o violão propositalmente para não correr o risco de viver dia após dia compondo minha saudade. Entreguei nossas alianças ao tempo. Pedi para pararem de desenhar o solitário que te daria quando nosso primeiro beijo completasse dez anos. Doei as roupas da nossa filha que nunca saiu do reino dos sonhos. Descumpri a promessa que fiz a mim mesmo, de que jamais te perderia. Briguei tanto com o ponto final que ele virou uma vírgula e o que virá depois da pausa eu não sei porque eu deixei de sabê-la.
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13/10/2015 -
Tristeza a um
Triste é não viver a dois o que não dá para ser vivido a um. É ser sozinho aos olhos de todos, mas estar intimamente ligado em todos os momentos a outro alguém. E esse alguém passa sabe se lá onde sozinho ou com outro alguém. É ligar para você mesmo para contar as novidades. É se olhar no espelho e ver a imagem da pessoa que você ama se misturando as linhas do seu rosto. É colocar dois pratos à mesa, conversar com o vazio, fazer os gostos de quem não está ao seu lado e deitar só num lado da cama de casal, respeitando o espaço ocupado pelo corpo amado e desejado que não está mais ali. Triste é dar boa noite à paixão e acabar beijando a solidão.
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14/05/2011 -
Tristeza copiosa
E ela não falou mais nada. Calou-se entre suas tantas dúvidas num quarto de travesseiro. Não queria falar ou ouvir palavra alguma. Apenas ronronava baixinho, como uma felina à luz da lua. Ficou ali de olhos fechados, de lábios trancados, de sonhos vendados. Ficou ali como ficam as estrelas na noite escura – queimando a própria solidão. E ao contrário de lágrimas, seus olhos vertiam uma espécie de cera que, pouco a pouco, deixava seu rosto com as feições de uma boneca de porcelana.
Era uma tristeza pungente. Sofria as dores das flores de inverno. Sofria por não poder abrir a janela e voar com asas próprias. Sofria pelos sonhos que morriam sem que ela pudesse fazer nada para impedir. Sofria porque queria ir, quando tinha de vir. Sofria porque precisava parar, quando queria continuar. Sofria porque queria ser apenas ela, sem mais construções. E isso não lhe era permitido pelos senhores de sua vida – o destino e o tempo. ...
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23/11/2015 -
Trivialidades
Não posso dizer que eu um dia hei de te querer como quero agora. Não ouso confessar hoje ou em outro dia que meu amor por você é mais puro que o da virgem maria. Se não me falha a memória, nossa história fala por nós. Só vemos os pontos do bordado da vida, mas é no arremate que damos os nós. Não, não fala do que não conhece. Amor que é amor não se esquece. Tudo o que só somos, somos juntos. Nossas partes formam com arte o nosso conjunto. E se meu coração é um pilão, a todo segundo quebra um grão de paixão. E paixão que foi liberta ninguém prende. E do amor dado não se arrepende. ...
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28/02/2011 -
Trocas e trocos
Eu pulso mesmo sem pulso. Eu como mesmo sem fome. Eu durmo mesmo sem sono. Eu acordo mesmo sem dormir. Eu vejo mesmo sem querer enxergar. Eu ouço mesmo sem suportar ouvir a mesma canção. Eu danço mesmo pisando em meus próprios pés. Eu amo mesmo sem saber amar. Eu viajo mesmo sem sair do lugar. Eu escrevo mesmo sem ter o que contar. Eu leio mesmo sem saber decifrar as palavras. Eu rezo mesmo sem acreditar. Eu trabalho mesmo fora de órbita. Eu vivo mesmo fingindo. Eu caminho mesmo sem direção. Eu aposto mesmo sabendo que vou perder. Eu saio mesmo querendo ficar. Eu choro mesmo sorrindo. Eu ligo mesmo que for para o telefone da solidão. Eu erro mesmo querendo errar. Eu emociono mesmo sem maior intenção. ...
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