Daniel Campos

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Encontrados 97 textos. Exibindo página 8 de 10.

06/09/2011 - Quero mudar

Quero mudar. Mudar de ares, de pecados, de existência. Mudar de estilo. Mudar de endereço. Mudar de expressão. Mudar de telefone. Mudar de identidade. Mudar de carro. Mudar de rota. Mudar de estrada. Mudar de disputa. Mudar de tempo. Mudar de deus. Mudar de tempero. Mudar de rosto. Mudar de espelho. Mudar de tom. Mudar de roupa. Mudar de geometria. Mudar de perfume. Mudar de perguntas e respostas.

Quero mudar de destino, de bebida, de email, de fotografia. Mudar de herói. Mudar de sorriso. Mudar de sotaque. Mudar de terra. Mudar de dimensão. Mudar de estrela. Mudar de visão. Mudar de opinião. Mudar de autor. Mudar de canção. Mudar de número da sorte. Mudar de verso. Mudar de arquitetura. Mudar de eixo. Mudar de conjuntura. Mudar de cenário. Mudar de nota. Mudar de rotação. ...
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30/06/2011 - Quando em quando

Quando descobri o seu mundo, eu me mudei. Quando vi suas asas, eu me joguei. Quando perdi o relógio, eu parei. Quando perdi, eu ganhei. Quando enlouqueci, eu cantei. Quando o muro chegou, eu pulei. Quando o cavalo passou, eu montei. Quando sua boca abriu, eu beijei. Quando a história terminou, eu chorei. Quando o pesadelo cresceu, eu gritei. Quando você não veio, eu me calei.

Quando tudo ficou mudo, eu falei. Quando esqueci seu rosto, eu voltei. Quando vi seu número, eu liguei. Quando o guarda apitou, eu passei. Quando você brigou, eu me rastejei. Quando percebi seu cabelo, eu me agarrei. Quando o vento bateu, eu bailei. Quando a noite subiu, eu brilhei. Quando o sonho falhou, eu acordei. Quando você se foi, eu me aproximei. Quando a solidão nasceu, eu a matei. ...
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27/06/2011 - Quem, quem é você?

Quem é você senão uma daquelas mascaradas de Chico Buarque. Quem é você senão uma coleção de segredos e códigos íntimos. Quem é você que se esconde, que se oculta, que se fecha. Quem é você que sai sem deixar pistas ou bilhetes. Quem é você tão inacessível e tão onipresente ao mesmo tempo. Quem é você que ninguém vê e todo mundo ama. Quem é você que habita o inconsciente. Quem é você que se mostra invisível quando lhe convém. Quem é você que vive de encantos e feitiçarias.

Quem é você que fala uma língua desconhecida, que anda pelas sombras e se disfarça igual uma camaleoa. Quem é você que chega a deixar de respirar para não fazer barulho. Quem é você que tem tantos nomes. Quem é você que nunca existiu nos registros oficiais. Quem é você que inventa tantas histórias e foge por completo das nossas memórias. Quem é você que não tem uma trajetória definida. Quem é você que se vale do de repente, de um tempo fugaz e volátil......
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25/06/2011 - Quando o sol chegar

Depois de amanhã, quando o sol chegar, não vou sequer sair do lugar. Vou esperar na minha cama o futuro das ciganas, os amores de cabanas, as santidades profanas. Vou me emaranhar nas cordas de aço de um violão vagabundo, vou me embrenhar nas contas do seu coração moribundo. Vou esticar uma rende entre seus lábios e ficar ali tão perto tão quieto. Vou pedir uma canção inédita à primeira estrela que passar e, de verso em verso, vou lhe chamando para ficar e me amar...

E daí eu vou explodir, feito cigarra, de tanto cantar. Vou me jogar ao vento e deixar você ir buscar. Vou me espedaçar em mil palavras só para você me catar e me remontar. Sou seu quebra-cabeça. Sou seu pôquer das noites de terça. Sou seu passado, seu passatempo, seu pássaro. Sou sua palavra à toa, a roupa suja que ensaboa, o tom que destoa. Sou tudo isso e mais um pouco, mas, depois de amanhã, quando o sol chegar, não vou mais sair do lugar. ...
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23/12/2010 - Que vida é essa?

Que vida é essa que tira mais do que dá? Que vida é essa que poda as nossas asas? Que vida é que nos obriga a rastejar? Que vida é essa que quer nos calar a qualquer custo? Que vida é essa que nos tira do juízo? Que vida é essa que nos entedia? Que vida é essa que nos mata, nos violenta e vicia? Que vida é essa que rasga a nossa fantasia? Que vida é essa capaz de deixar nossa vida vazia?

Que vida é essa que nos oprime? Que vida é essa que nos rende? Que vida é essa que nos quer ajoelhados? Que vida é essa que nos rodeia? Que vida é essa que nos provoca? Que vida é essa que nos humilha? Que vida é essa que nos separa da nossa própria vida? Que vida é essa que nos castiga? Que vida é essa que nos individualiza e depois nos coloca num mesmo balaio? Que vida é essa capaz de nos meter medo? ...
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15/12/2010 - Quantidades e qualidades

De quantas cenas é feito o seu cinema? De quantas trovas é feito o seu poema? De quantas mulheres é feita a sua fêmea? De quantas colombinas é feito o seu carnaval? De quantos partos é feito o seu pré-natal? De quantas velas é feita a sua nau? De quantos cavalheirismos é feita a sua dama? De quantos gemidos é feita a sua cama? De quantas histórias é feito o seu drama?

De quantas crendices é feita a sua fé? De quantos passos é feito o seu pé? De quantas bocas é feito o seu canapé? De quantos ladrões é feito o seu crime? De quantos reflexos é feita a sua vitrine? De quantos laços é feito o seu biquíni? De quanta hipocrisia é feita a sua mentira? De quanta raiva é feita a sua ira? De quantas notas é feita a sua lira? ...
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02/12/2010 - Quando a gente

Quando a gente saiu, eu entrei. Quando a gente se foi, eu voltei. Quando a gente acabou, eu comecei. Quando a gente beijou, eu mordi. Quando a gente parou, eu dancei. Quando a gente curou, eu feri. Quando a gente falou, eu calei. Quando a gente secou, eu chovi. Quando a gente prendeu, eu fugi. Quando a gente acreditou, eu menti. Quando a gente fechou, eu abri. Quando a gente achou, eu perdi. Quando a gente semeou, eu colhi. Quando a gente chorou, eu engoli. Quando a gente sorriu, eu amei. Quando a gente caiu, eu cantei. Quando a gente ligou, eu desliguei. Quando a gente ficou, eu jurei. Quando a gente ofertou, eu me dei. ...
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22/11/2010 - Quantitativo

Quantos assovios o vento traz em seus cabelos. Quantos desvarios velam pelos rios campelos. Quantos olhos cabem nos olhos da coruja. Quantos vermelhos colorem uma boca rubra. Quantas histórias habitam nas línguas dos apaixonados. Quantas lendas são oferecidas como oferendas aos deuses dos condenados. Quantos pontos e vírgulas ditam um romance. Quantos milagres estão ao nosso alcance.

Quantas sombras assombram a escuridão. Quantas flechas de cupido são necessárias para explodir uma paixão. Quanto algodão doce flutua no céu. Quantas mulheres se escondem atrás de uma mulher de véu. Quantas rodas estão sobrepostas em uma roda gigante. Quantos grilos precisam nascer até que se nasça um grito falante. Quanto de olhar há em um adeus. Quanto de pecado existe em Deus.


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15/09/2010 - Querer-me-ia

Se você soubesse o quanto eu lhe quero não me olharia com esses olhos de paralelepípedos. Se você soubesse o quanto eu lhe quero, querer-me-ia também. Se você soubesse o quanto eu lhe quero tomaria em seus braços os meus medos e me diria que nunca é cedo para morrer de amor. Se você soubesse o quanto eu lhe quero rasgaria sua agenda de compromissos e telefones e endereços e partiria agora mesmo para a nossa casinha lá no alto da serra.

Se você soubesse o quanto eu lhe quero não me condenaria a cada rompante do seu coração. Se você soubesse o quanto eu lhe quero colocaria seus tons primaveris mesmo quando inverno na minha boca. Se você soubesse o quanto eu lhe quero, querer-me-ia para sempre ao seu lado. Se você soubesse o quanto eu lhe quero nunca mais brigaria, desconfiaria, ignoraria o amor que guardo em mim. Se você soubesse o quanto eu lhe quero os dias seriam de um querer-perfeito....
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23/07/2010 - Queimada

Do fogaréu, sobraram as cinzas. Algumas fuligens, flutuando ao vento, ainda tentam borrar o azul do céu. A paisagem é desoladora. Sem pedir licença, as línguas de fogo varreram toda a beleza do lugar para um mundo distante e ainda desconhecido. O colorido das flores e o verde dos campos ganharam um único tom: o tom do carvão. O cheiro do mato também se transformou no perfume do carvão. Tudo se perdeu na fumaça. Tudo morreu na carcaça. Tudo se esqueceu na queimada que matou a última fada.
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