Daniel Campos

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Encontrados 278 textos. Exibindo página 12 de 28.

21/08/2016 - O milagre do beijo

O beijo quebra barreiras culturais, sexuais, zodiacais. O beijo une terras distantes, povos inimigos, opostos e iguais. O beijo sela pactos de paz e de amor eterno. O beijo dá a partida e recebe a chegada. O beijo fecha os olhos e pede abraços. O beijo vem geralmente acompanhado de um pedido de bis. O beijo dobra joelhos, deita corpos, levanta voos, leva a mergulhos na alma. O beijo vem de fora para dentro ou de dentro para fora? O beijo demora o tempo necessário a um beijo, nem mais nem menos. O beijo, por mais que seja planejado e sonhado, é espontâneo. O beijo une, junta, rejunta. O beijo mescla, mistura, miscigena. O beijo faz de partes um todo.


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03/04/2012 - O mistério da figueira

No domingo, o Rei entrou na cidade de Jerusalém e foi saudado por ramos. Na segunda, Maria ungiu Cristo no banquete de Bethânia. A quarta é das trevas. Na quinta aconteceu a última ceia. Na sexta, a crucificação. O sábado é de aleluia. E domingo, de Páscoa. Mas e hoje, terça-feira da Semana Santa, o que aconteceu há quase dois mil anos? A maldição da figueira.

Jesus teve fome. Na semana dedicada ao jejum, Jesus teve fome. Ao avistar uma figueira à beira de seu caminho foi até ela, mas não encontrou fruto algum. O filho de Deus não pensou duas vezes antes de amaldiçoar a figueira. A árvore secou imediatamente. Até os discípulos ficaram admirados diante de gesto tão radical. Um gesto que não combina com o Jesus paz e amor cultuado hoje. ...
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01/12/2010 - O mundo das batatas

Já ouviu falar do planeta dos macacos? Pois bem, agora vivemos a era do planeta das batatas. Homens e mulheres batatas que pensam e agem como tal. Homens e mulheres que saem da terra para serem amassados, cortados, descascados, lavados, fritos, assados, cozidos, enfim, consumidos como batatas. Batatas grandes ou pequenas, claras ou escuras, lisas ou cascudas, mas sempre batatas. Batatas peruanas, inglesas, francesas, mas sempre mundanas.

Humanidade tão gostosa quão gordurosa. Humanidade uniforme e maçante, como a massa das batatas. Humanidade abundante, porém pouco nutritiva. Humanidade com formato arredondado irregular. Humanidade transgênica, batatada cênica. Humanidade agrotóxica, tão agro quão tóxica. Salada de sentimentos. Purê de neurônios. Sopa de atitudes. Bolinhos de fé. Suflê de olhares. Nhoque de relações. Receitas de humanidade, homo sapiens nu e cru. ...
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15/07/2010 - O mundo de Hanna

Você soube do centenário de nascimento de William Hanna completado esta semana? O nome desse norte-americano pode soar desconhecido aos seus ouvidos, mas tenho certeza de que lembra de pelo menos de um de seus mais de dois mil personagens produzidos em parceria com Joseph Barbera. Personagens de novela, de romances, de teatro, de cinema? Quase. Personagens de desenho animado assistidos por pais e filhos. Afinal, quem não conhece Scooby-Doo?

Além do famoso companheiro do Salsicha, minha infância se mistura aos cachorros Dom Pixote, Bib Pai e Bob Filho, Mumbly, Dino, Hong-Kong Fu, Ruivão, Goober, Dinamite e Oscar, todos criados pelo estúdio Hanna Barbera. Depois da escola, passava as tardes em companhia da extinta Rede Manchete e da Bandeirantes deixando-me envolver com as aventuras de Zé Colméia, Família Adms, Tartaruga Tuchê, Formiga Atômica, Homem Pássaro, João Grandão, Leão das Montanhas, Manda-Chuva, Os Herculóides e tantos outros. ...
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07/04/2012 - O mundo inteiro para ela

Nada para mim, tudo para a mulher amada. O que sou, o que tenho, o que sonho, tudo pertence à mulher amada. As flores que cheiro, os frutos que dou, as raízes que me sustentam são da mulher amada. Os sacrifícios que faço, o tempo que desfaço, o que eu perco e o que acho são obra da mulher amada. O que chega, o que fica e o que escorre dos meus olhos dizem respeito diretamente à mulher amada. Os movimentos das marés e das estrelas imitam o balançado e o ritmo da mulher amada.

O que eu prometo ou ofereço o faço à mulher amada. O que vejo no espelho, no fundo do copo e nas linhas da minha mão é o mesmo reflexo da mulher amada sob várias angulações e profundidades distintas. O sabor que fica na boca, a cor que não desbota, o perfume que impregna são resultado da presença ou da ausência da mulher amada. Os adjetivos e suspiros convergem à mulher amada numa estrada de mão única na qual a saudade segue na contramão....
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15/11/2008 - O mundo na barriga

Já havia passado do prazo dado pelas suas contas, pelos médicos e pela natureza. O menino estava a cada dia mais forte, cansando-lhe o corpo. A maratona de hospital-casa, casa-hospital já havia virado rotina. As dores do parto, as contrações, a eliminação de líquido eram mais que suficientes para ela acreditar no nascimento e rumar para a maternidade. No entanto, os médicos diziam que a dilatação não era aquela, que as contrações eram psicológicas, que o bebê estava bem. Coisas de primeira gravidez. Ah! Ela era mãe pela primeira vez e a culpa de tudo parecia estar nesse fato....
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06/03/2008 - O mundo não se acabou

"Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí
Em vez de tomar chá com torrada ele bebeu parati
Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão
E sorria quando o povo dizia: sossega leão, sossega leão"

Há exatos cinquenta anos, o autor desses versos saiu por aí para nunca mais voltar. O baiano Assis Valente não sossegou e conseguiu nos deixar em sua terceira tentativa de suicídio. Mas não foi porque ele era mantido em regime de escravidão pela própria família, ou pela vida que levava no circo ou pelo trabalho de lavar vidrinhos em uma farmácia que ele decidiu se matar......
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05/02/2011 - O mundo rodou

O mundo rodou e Tóquio é apenas uma vila de pescadores e samurais; Paris ainda não teve sua revolução e Nova Iorque não passa de uma colônia inglesa. O mundo rodou e a Alemanha ainda não foi dividida, a Suíça é o relógio do planeta e Roma luta contra os gauleses. O mundo rodou e a Índia ainda não encontrou os índios. O mundo rodou e o Mar Morto ainda pulsa.

O mundo rodou e os poetas de Atenas se casam com as guerreiras de Esparta. O mundo rodou e Espanha é o nome de uma arena onde touros e toureiros se enfrentam com passos de dança. O mundo rodou e as viúvas dos navegantes de Portugal alimentam de sal o Oceano. O mundo rodou e Cuba espera por Che e Fidel. O mundo rodou e o Egito caminha ao som dos faraós. ...
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28/07/2012 - O nada no tudo

E, de repente, hoje, o bonito do tudo me fez aflito, pois o que havia sido feito do nada? Eu sempre me preocupei com o nada. Nunca tive medo da morte, da dor, do silêncio, mas sempre tremi diante da possibilidade de ficar cara a cara com o nada. E quando percebi a beleza em tudo, fiquei a pensar onde estaria o nada? O pesadelo, a feiura, a indelicadeza, a destruição, o deserto que é o nada.

Dentro das pedras? A sete palmos do chão? Na boca desprezada pelo beijo alheio? No que restou da poça d’água? No intervalo entre sol e lua? Na falha divina? No elo quebrado da corrente do destino? No latido do cão? Na promessa quebrada? No espelho virado? No sonho que não vingou? No mistério da sombra? No desejo que aguou? No passado do presente? No que não foi flor, fruto ou semente?...
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14/11/2010 - O nascimento da mulher amada

Deus disse: "Faça-se a luz!" E a luz foi feita. (Gênesis 1,3)

A mulher amada não nasce de uma barriga, não se forma da união de óvulo e esperma, não vem ao mundo pelas mãos de um médico ou parteira. A mulher amada não nasce biologicamente como tantas outras mulheres. Ela também não nasce de campos de éter, das criações de um deus romântico, das sementeiras trazidas pela chuva. Embora ela coloque medo como bruxaria, não vem de feitiços ou bruxedos. Ela não nasce de conjunções astrais, tampouco de desejos carnais. Embora tenha um pouco de tudo isso, a nascedura da mulher amada é um alento a mais. ...
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