Daniel Campos

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28/07/2012 - O nada no tudo

E, de repente, hoje, o bonito do tudo me fez aflito, pois o que havia sido feito do nada? Eu sempre me preocupei com o nada. Nunca tive medo da morte, da dor, do silêncio, mas sempre tremi diante da possibilidade de ficar cara a cara com o nada. E quando percebi a beleza em tudo, fiquei a pensar onde estaria o nada? O pesadelo, a feiura, a indelicadeza, a destruição, o deserto que é o nada.

Dentro das pedras? A sete palmos do chão? Na boca desprezada pelo beijo alheio? No que restou da poça d’água? No intervalo entre sol e lua? Na falha divina? No elo quebrado da corrente do destino? No latido do cão? Na promessa quebrada? No espelho virado? No sonho que não vingou? No mistério da sombra? No desejo que aguou? No passado do presente? No que não foi flor, fruto ou semente?

Se a beleza estava em tudo, onde estava o mundo profundo do nada? Com certeza escondido em algum lugar da minha estrada mundana, da minha estada cigana. Por algum milagre, hoje o nada estava imerso no tudo, no bonito do tudo, em perfeita harmonia. O nada, por alguma ação obtusa do céu ou do inferno entregou-se calado à alegria. E o nada se divertiu, e se embelezou, e se converteu, e se recriou.

O nada, ao menos hoje, foi tudo.


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