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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 4 de 320.
06/10/2009 -
A casa e o infinito
Uma casa é feita de muitos sonhos e suor. Uma casa é feita de linhas. Linhas arquitetônicas, matemáticas, orçamentárias. Uma casa é feita de frente e, sobretudo, de verso. Uma casa é feita da mistura de pensamentos e sentimentos. Uma casa é feita de palavras escritas e ditas em silêncio, em sussurros, em urros de dor e felicidade. Uma casa pode ter uma infinidade de telhas ou de estrelas, dependendo do desejo e da necessidade de quem nela habitar.
Uma casa pode ser construída na beira do lago, do penhasco, do vulcão ou a 50 metros de altura, arranhando o céu. No entanto, a casa, por mais abstrata que seja, precisa ser sólida. Isso porque além de guardar afeto, um teto é uma espécie de feto a lhe proteger, a lhe envolver, a lhe tecer. Uma casa pode ter uma infinidade de paredes e quartos, contudo necessita primordialmente de uma porta. A partir dela, você tem um mundo só pra você. E é ali que você se faz e refaz por inteiro, recebendo quem ama, mostrando-se às visitas. ...
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10/01/2016 -
A chuva chega, vem, chama, cai...
A chuva chega e se aconchega em nossos corpos nos trazendo a alegria dos porcos rolando na lama e o intimismo dos amantes se confessando na cama.
A chuva vem e traz também os perfumes dos anjos que cheiram a mato e flor num arranjo de frescor que enche de ardume o coração, que bate encharcado de paixão.
A chuva chama todos os sentidos a se expandirem e dos olhos aos ouvidos tudo fica mais amplo, mais tanto, com mais encanto e inflama em nós o desejo de não sermos sós. ...
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Comentários (1)
03/11/2012 -
A chuva da noite
A chuva da noite silencia a terra num quê de perfume. A chuva da noite coloca os pássaros nos ninhos. A chuva da noite apaga os vagalumes. A chuva da noite traz um refresco aos corações acalorados. A chuva da noite atiça sonhos não vingados. A chuva da noite pede um sono de conchinha. A chuva da noite espanta a sequidão de ideias. A chuva da noite inspira, suspira, pira. A chuva da noite provoca como mulher que é. A chuva da noite pode ser encarada como prova de amor ou de fé. A chuva da noite cai como um buquê de noiva. A chuva da noite cola feito confete de carnaval. A chuva da noite está acima do bem e do mal. A chuva da noite é uma volta ao útero da natureza, uma beleza visceral. ...
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16/01/2013 -
A chuva de Nanã
De manhã à noite, por todos os lados há a chuva de Nanã. Chuva forte e intensa, como a personalidade de Nanã. Chuva tão antiga quão Nanã. Chuva que deixa o céu arroxeado como as vestes de Nanã. Chuva que alivia a alma e pesa o corpo. Chuva que nos curva para reverenciar aos céus, por gratidão ou temor a Nanã. Chuva que transforma toda a terra em lama, a lama da criação de Nanã. Homens e mulheres se lambuzam na chuva e na lama de Nanã, recriando-se em formas e conteúdos. Salubá Nanã!
A chuva de Nanã nos constrói e, descontrói e reconstrói. Na chuva de Nanã há mais sorte do que nas sementes da romã. A chuva de Nanã traz mensagens subliminares, perfumando os ares nos tons e essências da alfazema. A chuva de Nanã nos redimensiona ao mesmo tempo em que nos faz colocar os pés no chão, dando a cada um o seu exato tamanho. A chuva de Nanã encharca o coração, que transborda em sentimentos. A chuva de Nanã cala fundo no espírito, revolvendo tudo o que há de público e de confidencial em nós.
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02/12/2012 -
A chuva de Zeus
Por Zeus, pai dos deuses e dos mortais, que a chuva venha na medida certa das nossas necessidades. Zeus, ceifeiro das nuvens. Soberano dos céus. Senhor que lança os pingos d’água com sua mão direita sobre nós. O mesmo Zeus que alivia as noites quentes com uma fina garoa comanda tempestades. Manipula raios e trovões de acordo com o merecimento dos homens. O governante supremo, que zela pela harmonia entre todas as coisas, manda a chuva que madura o fruto e aquela que tomba a árvore. A chuva tem a alma de Zeus. É como ele chega até nós. ...
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23/03/2015 -
A chuva no bico do João
Choveu, a menina entrou debaixo da coberta. Choveu, a lavadeira se queixou. Choveu, o pintor de parede preocupou-se com sua meta. Choveu, o sino da igreja nem tocou. Choveu, o menino não foi jogar bola. Choveu, deu preguiça de ir para escola. Choveu, o jardineiro agradeceu. Choveu, a florista enlouqueceu. Choveu, o carro não saiu do lugar. Choveu, no fogão uma sopa pro jantar. Choveu, guarda-chuvas e sombrinhas se abriram como flor na primavera. Choveu, a roupa deu em lama. Choveu, não faltaram convites para cama. Choveu, tudo fica mais lento e o relógio não espera. Choveu, o pescador se animou. Choveu, a mulher reclamou que ninguém limpou o pé para entrar em casa. Choveu, passarinho sacudiu a asa. Choveu, passarada cantou pra valer. Choveu, João que é de barro ganhou o que fazer. Choveu, João colheu sua matéria-prima pelo quintal. Choveu, Joana-de-barro pode fazer seu enxoval. Choveu, João-de-barro vai construir no alto do angico. Choveu, e o João-de-barro levou a chuva no bico.
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11/06/2011 -
A chuva recriadora
De repente, começa a chover na mulher da estiagem. Que os amantes cavem, remexam e revolvam a flor da pele dessa mulher para que os poetas possam semear o amor. Úmidos, os sentimentos dessa mulher tendem a brotar com força, rompendo as sete camadas de solidão. A época de sonhos secos, mirrados e agonizantes acabou. Tem início o nascimento de um tempo de fartura, espalhando uma primavera fora de época pelo horizonte que a contempla. Raios a cortam iluminando-a em lampejos à santa Bárbara, em promessas à santa Clara. ...
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26/11/2012 -
A chuva vem...
Lá vem a chuva, lá vem a chuva, lá vem a chuva, a chuva vem e...
O bêbado enche o copo e toma uma dose de chuva. A moça pensa que o céu é um imenso chuveiro e sai cantando pela rua. O lavrador, de tanta felicidade, dança no ritmo da chuva. Enquanto tem gente correndo, há gente se entregando à chuva. O cachorro se chacoalha tirando de si todo o peso do mundo. Os apaixonados caminham entrelaçados sob o mesmo guarda-chuva. Há quem levante um brinde ao fim da estiagem. A cama ganha colchas e cobertas. Os peixes sobem à flor d’água. O coração de açúcar derrete. A viúva se lembra do marido chegando com a chuva e fica a esperá-lo no portão. Para não estragar os sapatos, a mulher prefere seguir descalça. ...
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22/06/2008 -
A cinderela e o bêbado fulano de tal
São três horas da manhã. A cidade dorme. E pelas ruas, um bêbado fulano de tal caminha com uma sandália nas mãos à procura de sua cinderela. Ó noite fria! Ó busca bela! Como soluços compassados, os carros passam com faróis atordoando os olhos já atordoados do bêbado que tropeça sem chapéu e sem bengala por linhas que a cigana charlatã não dá conta de ler. Não, não era Chaplin ou qualquer outro personagem famoso de cinema ou teatro. Era um astro das calçadas, mas não passava de um anônimo fulano de tal com a promessa de um romance nas mãos....
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25/04/2015 -
A comitiva vai partir
A noite se joga do seu alto no meio do pasto. O gado dorme orvalhado. Não há mugido nem refestelo qualquer, só o vento que caminha na ponta dos pés agasalhados por meias de lã. O boiadeiro, depois de um dia suado na lida, dorme acalentado pelos seios de sua sinhá. Sabe que a seca está por vir, que o pasto vai secar, que vai ter que tocar o gado pra longe, numa comitiva de sobrevivência, e que a saudade daquela morena vai doer fundo no peito. Por mais que essas preocupações cresçam em sua cabeça como sementeira depois da chuva, encontra paz naquele colo para sonhar seus sonhos. E a morena, do alto de sua meninice, correrá pra janela toda vez que ouvir um berrante pensando que seu amado está voltando ou entoando pra ela. A filha, que começou a engatinhar, não entende muito bem essas idas e vindas do pai, tampouco o choro da mãe quando ele não está. Vai sentir falta mesmo de ver as vaquinhas no pasto, pois gosta tanto de ficar vendo aqueles bichinhos brancos feito algodão no meio do capim verde. E toda vez que escuta um mugido abre um sorriso. Não é à toa que se sente ligada aqueles bichos, pois em razão de não pegar o peito foi alimentada desde sempre pelo leite das vacas. O pai ainda brincava de coloca-la em cima do lombo das mais mansas. Partir com aquela comitiva não seria fácil. Partiria não só o chão trincado como afetos que não se explicam. Mas enquanto o adeus não chegava, aproveita para suspirar naquela pele fresca como a brisa que entra pela janela, sacudindo as cortinas que revelavam uma lua circulada de vermelho, numa profecia ocular de estiagem.
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