17/04/2008 - Boi da cara preta

Boi boi boi, boi da cara preta pega essa criança que tem medo de careta.

Boi boi boi, boi da cara preta pega essa criança que tem medo de careta.

Boi boi boi, boi da cara preta pega essa criança que tem medo de careta.

Pode parar de cantar. Eu não vou dormir. Estou assustado com as caretas dessa gente ai. Não vou fechar os olhos com tantos piratas, falsários e donos da corrupção aprontando por aqui e por ali. Cuidado! Tem que abrir o olho e gritar pega ladrão. Estão roubando minha carteira, minha feira, minha beira de chão. Tão metendo a mão, de cara limpa, no futuro da civilização. Tão levando nosso ar, nossa água, nosso mato, nossa chuva, nosso sapato, nosso pulmão. É muita raposa para pouca uva. Tão nos tirando o futuro, tão levando nosso mundo seguro e nos cercando com um muro de sofreguidão.

Boi boi boi, boi da cara preta pega essa criança que tem medo de careta.

Boi boi boi, boi da cara preta pega essa criança que tem medo de careta.

Tem boi na rua. Tem boi na praça. Tem boi na lua. Tem boi na linha fazendo pirraça. Tem boi na sua e na minha vida. Tem boi na chegada e na partida. Tem boi fazendo careta e muita treta por ai. É boi no horário nobre da televisão. É boi na capa da revista. É boi nos palácios, nos arranha-céus, nas tribunas. É boi da cara feia surgindo nas situações mais inoportunas. É tanta careta de cinismo, de oportunismo, de banditismo que o sono vai embora e a gente chora, chora, chora. É tanta careta e tanto estrume neste pasto mãe gentil. E a terra do pau-brasil vai ficando enlameada, emporcalhada, estragada. E o que é que vai nascer de tudo isso? Erva daninha. E é erva daninha que alimenta o boi da cara preta que faz careta. Eu é que não vou dormir, cochilar, vacilar. Os bois estão por todos os lados prontos para nos pegar.

Boi boi boi, boi da cara preta pega essa criança que tem medo de careta.

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