Cenarius
20/12/2008 - Elefantes não morrem
Elefantes não morrem, apenas desaparecem. Exceto se assassinado, você não encontra o corpo de um elefante. Você já encontrou algum? Há toda uma lenda que os animais sabem quando vão morrer e, perto desses dias, partem para um lugar sagrado - o cemitério dos elefantes. Diante disso, Olavo afirmou, para si próprio, com veemência, que queria ter o mesmo destino dos descendentes dos lendários mamutes. Coragem ou covardia? Dizem que elefantes não têm medo de nada.
Nesta decisão, foi réu e juiz e advogado do diabo ao mesmo tempo. Estava sentenciado. Teria o destino dos elefantes. Na noite anterior a sua ida, inventou uma história mágica para a filha de que ele era um elefante que se transformou em homem graças ao beijo de uma princesa. Seu corpo havia sido transformado, mas seu coração ainda continuava grande, feito o de um elefante. E era por isso que ele a amava demais. Ela sorriu, o abraçou e adormeceu.
Não levou bagagem porque não precisaria de nada. Nem sequer um agasalho levou, visto que para onde iria não faria frio. Saiu apenas com uma foto da mulher abraçada com a filha e uma cartela de cigarros. Fumando pela madrugada, saiu pela escuridão de seus dias mais vazios. O casamento, a casa, o emprego, os sonhos... calado e sozinho, foi desvencilhando a estrada, em busca de outro caminho, deixando para trás a sua manada. Afinal, sofria de uma doença incurável e o cemitério dos elefantes é o lugar para onde vão os que não têm mais volta.
No meio do caminho parou, olhou para trás, teve um impulso de voltar, mas rezou para Ganesh, o deus hindu da sabedoria, que é metade homem metade elefante, e voltou a procurar o caminho do cemitério dos elefantes. Mas onde ficava isso? Ele não fazia a menor idéia. Apenas sabia que tinha de evitar o sofrimento dos que o rodeavam. E assim, foi à procura do seu adeus. Quando amanheceu, deram conta de seu desaparecimento. E entre lágrimas e desesperos, a filha de poucos anos virou e perguntou para mãe:
- Mãe, elefantes não morrem, não é?
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