Daniel Campos

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Mulher das escrituras

Nos olhos da mulher das escrituras
Dá-se o encontro
Entre a maçã do gênesis
E os cavaleiros do apocalipse.

Nos olhos da mulher das escrituras
Moisés divide mares
Água se transforma em vinho
E noé navega
Por entre hebreus e fariseus.

Há mistérios, versículos
E profecias
Nos olhos da mulher das escrituras.

Nos olhos da mulher das escrituras
Há um quê de trigo
E um quê de nuvem
Um quê de sagrado
E nenhum por quê.

Nos olhos da mulher das escrituras
As falas são parábolas
Que nem sempre falam de amor.

Nos olhos da mulher das escrituras
Os rituais são povoados
De apóstolos.

Nos olhos da mulher das escrituras
Dor se transforma em felicidade
E saudade em amor
No passo de um milagre.

Nos olhos da mulher das escrituras
Tudo foi feito de barro
Tudo foi feito de sopro
Tudo foi feito da costela
De um poeta pagão.

Nos olhos da mulher das escrituras
Milênios e milênios atrás
Queimam na chama
De um círio pascal.

Nos olhos da mulher das escrituras
As chagas
Povoam uma longa estrada
Feita de reis magos
E desertos de serragem.

Nos olhos da mulher das escrituras
Homens e mulheres
Se ajoelham
Se assustam
E se pregam
Em cruz.


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