Daniel Campos

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Margeando-te

Quando meus passos caminham em seu encalço
Lado a lado, ladeando e beirando, margeando um ao outro
Outro ao um
A estrada vai dando em tudo, dando em nada
Sou alguém, sou nenhum
Passando pela estrada alongada

Eu passo namorado enquanto passa enamorada
E do ventre da noite escura nasce uma brisa louca
E nos joga à loucura de sua formosura
E toda estrada quer acabar em sua boca
E toda noite para nós ainda será pouca

Nossos passos atravessados, cruzados, paralelos, parabólicos
Eólicos de bem-te-vi
Nessa estrada, eu caio em ti enquanto cai em si
Sorri
E caminha nessa estrada alaranjada

Ao longo desse amor visceral
Vou margeando-te num amor marginal
Enquanto nossos passos seguem sincopados
Colados, tomados, impregnados um do outro
Outro do um

A ponta do lago é um convite que aponta e apronta
Em nossas mentes
Eu, você e a lua boiando e se dando, gozando e amando
Bem a nossa frente

E uma vontade de se jogar naquelas águas
Feito a estrela dalva que deixou suas anáguas
Ao léu de um céu despudorado
E num brado mergulhou ainda tonta
Suas pontas na ponta do lago dos amores

Chamem, chamem, chamem os trovadores
Que eu quero lhe dar a minha trova mais bonita
Que eu quero alçar mar a bordo da fita
Colorida
Da sua roupa em flores, e as flores
Já estão na estrada a lançar polens sobre nós

Não, ninguém há de estar a sós
Nestes nós de marinheiro
Que são os nossos abraços cegos

Ah! Navega em mim que eu lhe navego
Navegante
Navegador
Navegações

Pelo asfalto, pela pedra, pela grama, pela estrada de chão
Batido
Embarque a estibordo neste amor rompante galeão
E vamos à procura
Do mapa proibido
Deste amor sem cura

Ah! Segura a minha mão e vamos inventar uma outra trilha
Sou seu homem, seu leme, sua correnteza, prancha e ilha
Quiçá, sou sua filha
Gritando mãe, não quero partir
Não me deixe aqui

Quero a noite néon
Da sua boca crepom
Me pega pelo braço e me arrasta em seus passos
Lado a lado, ladeando e margeando seu traços

Sou sua cria
Estrada e poesia.


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