Daniel Campos

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06/03/2016 - Asas e raízes

Olha bem, esses meus braços são asas
Atrofiadas pela dor de não poder voar
Por não se contentar com águas rasas
Minha língua inquieta busca o profundo
Do mundo no palavreado do poeta
Meus pés, minhas pernas são raízes
Arrancadas da terra. Berra meu coração
O silêncio, a promessa, a imaginação
Em tantos e quantos milhões de matizes
Minha cabeça rodando segue aberta
Tal e qual o sexo dos anjos distraídos
Meu corpo feito de barro, de reboco
É toco que resiste num eco atrevido
Entre o grito e o gemido da quietude
Da mata que sou, da mata que restou
Num rio olhado que corre esverdeado
Pelo leito do mundo. E meu mundo,
Minha senhora, é assim sem fundo
Se quiser mergulhar tem de ser
Num voo cego, tem de ser mulher
De rodopiar em meus rodopios
Mas jamais bater prego para sangrar
Minha casca querendo enfim saber
Se há sangue, seiva ou sei lá o que
Cá dentro desse meu estranho ser


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