Daniel Campos

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Agnóstico

Amar é coisa dos sem deuses
Amar é criar deuses
Cultuar a pessoa amada de tal forma
E se preciso for colocá-la num altar
Sem medir ou poupar esforços.
Um altar que não seja símbolo de sagrado
Mas de sacrilégios.
Um altar onde não se roga orações prontas
Mas palavras de momento
Um altar onde se canta e se chora
Diante de uma imagem
Que lhe acolhe nos braços,
Braços que são lembranças
Braços que são promessas
Braços da saudade em solidão.
Um altar onde não há velas
A não ser a própria chama
Que parece se alimentar daquela representação.
Um altar que recebe flores
Não necessariamente vermelhas
Mas flores que sangram
Por não poder tocá-la
Fazer parte daquele corpo
Flores que se vão sem que ela as veja
Ou até mesmo as saiba.
Altar onde só há um devoto
E este acredita
Embora tudo leve a descrê-lo
Ele crê não em si
E sim nela
E passa um longo tempo
Diante daquela imagem
De joelhos num silêncio falso
Que quieto soluça, murmura, grita
E se entrega a um vazio
Povoado de ilusões.
Altar que traduz uma vida
Um ato
Uma utopia
Onde a fé é um ideal
E ideais são sonhos
Com vida própria,
Talvez a própria vida
Entregue ao sonho
Entregue a ela
Numa crença infinda
No que é amar.
Um altar, comum e sacro
Um porta-retrato
Com a fotografia dela
Numa mesa
Onde os olhos
Esquecem o tempo
Numa adoração
Sobre-humana.


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