Daniel Campos

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A mulher que leva um chocolate

A mulher que leva um chocolate em suas mãos
Leva um segredo, leva um mistério, leva um destino que nem ela conhece.
É como se o impossível deixasse de existir
Nas mãos que ganham movimentos exatos, lentos, abstratos
Ao despir o chocolate com a delicadeza de uma assassina.
Mansa e solitariamente,
O silêncio percorre as mãos e se alastra por todo o corpo
Da mulher que leva um chocolate em seus olhos.
Olhares de carinho e pecado
Trocados feito amor que já não existe.
Dessa entrega quase que telepática
O perfume da flor se mistura ao perfume da fruta
E não se sabe quem domina quem
E não se sabe quem espera quem
E não se sabe quem provoca quem.
A mulher que leva um chocolate em suas entranhas
Veste-se apenas de desejo
E atrai como nunca atraiu ninguém
E trai o mundo por um sonho qualquer
Como se fosse a mais livre das criaturas.

Do encontro entre lábios e chocolate
Nasce uma beleza que de tão bruta deixa triste
A mulher que leva um chocolate em seu sorriso.
E da última mordida surgirá um sentimento
Que a fará fêmea como ela jamais ousara ser.
Ao primeiro gosto de solidão
A mulher que levava um chocolate em suas mãos
Acordará de uma espécie de transe, de feitiço, de hipnose
E não se lembrará de nada.
Somente seus lábios
Serão mais amargos ou mais doces
Serão mais negros ou mais brancos
Serão mais puros ou mais bêbados
De licores e de outros amores
Durante um beijo de ciúme.


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