Daniel Campos

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A boca da mulher amada

Que o tempo se confunda e se perca na boca da mulher amada.
Que nela seja possível encontrar todos os temperos
Dentre eles, aqueles que nos lembram a infância
E aqueles que nos desejam a vida eterna.
Em sua boca deve haver um baralho cigano
E que estas cartas se enganem como as linhas das nossas mãos.
Que na boca dessa mulher haja um quê de incenso
Algo de místico, de esotérico, de feitiço
Algo que não seja possível explicar racionalmente
Como aquele sabor que não se sabe, apenas se gosta.
E que todos os astrólogos deixem as estrelas em paz
Pelo menos enquanto habitarem a boca dessa mulher.
Que ela não faça muitas perguntas
E que tenha todas as respostas
Mesmo quando faltarem perguntas.
Que ela não saiba pronunciar nunca
E que também não seja uma repetição de sim,
Que fique no talvez
Porque não há nada mais misterioso do que um talvez.
E que essa boca nunca se abstenha.
E que tenha tantos pecados a confessar
Mesmo que não se arrependa de nenhum deles.
Que saiba de cor um texto de Shakespeare
Mesmo que recite para todos, exceto você.
Que conte todas as histórias que traz guardada
Por quantas vezes quiser.
Que essa boca saiba todos os sinônimos de agradecimento
Mas que os faça em silêncio
Em gestos que só você saiba entender.
Que essa boca sempre se despeça com até
Até amanhã, até mais tarde, até para sempre...
Que essa boca traga todas as fórmulas físicas e químicas
Que se possa imaginar e também as que não se pode
E que use de toda a filosofia
Para dizer que um mais um são dois.
Que nessa boca os jobins e os vinícius sejam possíveis
E que então se faça plena e infinita poesia.
Que essa boca sempre tenha um quê de sofrimento
Aquela dor característica dos que existem e, pior, amam.
E por mais que diga não vir, quando vier
Que venha com beijos guardados e sem data de validade.
É de suma importância que venha sempre sem avisar
E se avisar, que nunca diga a data ou a hora ao certo.
Que faça promessas e cumpra outras promessas
E que se mantenha fechada por algum tempo
Em uma espécie de sono, de clausura, de silêncio
Para não deixar a noite escapulir do seu céu
Antes do horário previsto.


Comentários

03/03/2010, por Rosane:

Muito linda está poesia.O mundo realmente precisa de homens que vejam a essência feminina.

12/04/2010, por fernando:

simplismente adorei , parabens lindo .

12/08/2013, por Antonio silva:

Muito bom!Quando se ama uma mulher como ela merece ser amada se pode ver sua excência.Esse poema é tudo o que diria,faria e esperaria da minha doce e amada mulher.

12/08/2013, por Antonio Silva Garotinho:

A boca da mulher amada é uma botija de mel escondida na selva abandonada.É o fruto maduro vermelho e adocicado com cheiro de sonho e de amor pecado. Dedicatória a Maria Mesquita,meu eterno amor.


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