Daniel Campos

Texto do dia

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28/02/2009 - Vida longa aos pipoqueiros

Tenho uma inveja saudável dos pipoqueiros de pracinha. Aqueles senhores, de tantas histórias, que empurram a morte empurrando carrinhos de pipoca pela praça. Quanta beleza e cheiro no estouro das flores do milho. Que vida tranqüila eles têm entre a pipoca, os bancos e as árvores. Muitos trocam o dia pela noite, trazendo mais sabor aos que passeiam a luz da lua. E uma lâmpada incandescente ilumina aquele carrinho como barraca de festa. Pode parecer simples, mas há toda uma técnica envolvendo a transformação do milho em pipoca. Mas eles tiram isso de letra.

Na vitrine daquele carrinho, o sal e o doce, o branco e o rosado das pipocas aguçando os olhos, a boca, as narinas das crianças, dos apaixonados, dos felizes. E ainda há aquele molho de pimenta caprichado para quem queira tingi-las de vermelho. Transbordantes, os saquinhos de papel vão esparramando pipoca pela praça. É como se em cada carrinho de pipoca começasse uma nova história de João e Maria. E todas elas se encontrassem pela pracinha. Tudo é fantasia em torno do pipoqueiro, que lida com o imaginário infantil em corpos de várias idades. A pipoca feita na panela de casa ou devorada no cinema tem um gosto diferente da feita na praça.

Há dias em que tenho vontade de trocar toda a correria pelo remanso dos pipoqueiros. É uma vida solitária, entre criador e criatura, mas há sempre um sorriso, um pedido, um olhar arregalado tentando romper sua solidão. Podem ganhar pouco, mas tem uma missão gratificante. São eles que alimentam os sonhos das crianças. É de suas pipocas que vem o pretexto para um romance. É ele quem semeia uma nova primavera, a partir da floração das flores do milho. Uma primavera de paladares. Vida longa aos pipoqueiros de praça.


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