Daniel Campos

Texto do dia

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02/10/2009 - Vermelhidão sertaneja

Em meio a tantas flores e folhas, um fruto aparecido fazia questão de ser visto vermelho por entre o branco e o verde da aquarela que compunha aquela árvore nem alta nem baixa, nem magra nem gorda demais. Temporão, como se costuma dizer no interior, o caju avermelhou-se, de desejo ou pudor, antes da previsão dos cientistas. Coisa do relacionamento do sol e da lua. E não era um fruto qualquer, tinha tanta carne e delicadeza que mais parecia uma mulher pendurada nos galhos de um cajueiro.

Rasguem as cartilhas escolares que diziam que cajus são amarelos. Cajus, ao menos daquele pé, são rubros como as bochechas da menina ao ganhar o primeiro beijo do namorado. Vermelho num tom sacro e ao mesmo tempo, profano. Será aquela a fruta proibida? Perto daquele caju, que enchia as vistas e cheirava à tentação, a maçã perde totalmente a graça. E se aquela é mesmo a árvore perdida do Éden, onde estão Adão e Eva? Será que a serpente anda por perto?

Antes de procurar pelo gênesis vou logo ao apocalipse. Meus dentes rasgam o caju enquanto minha língua tenta entender o que ele diz. Bobagem! O suco caudaloso, entre o amargo e o doce, invade as minhas células que logo entram em parafuso. Rodam uma, duas, três vezes antes de se entregarem, ainda inebriadas, aos devaneios do fruto. Sob o olhar dos pássaros, que por medo ou descuido não encontraram o caju antes de mim, lambuzo-me naquela vermelhidão sertaneja.


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