06/02/2009 - Vacas magérrimas
O boi virou petróleo. A vida deixou de ser calculada em barris e passou à arrobas. Açougue virou joalheria, artigo de luxo. Chega a ser considerado supérfluo por muitos economistas o ato de comprar carne. Ouvi da boca de meu pai que na sua infância carne bovina era restrita ao dia de domingo. E hoje, essa época volta à tona. O preço do filet mignon está nas alturas. E pior que não é só ele, a alta nos açougues transformou o acem, o músculo, a ponta de peito em carne de primeira. Melhor abusar de batatas, chuchus, abobrinhas...
Não escuto os mugidos. Onde estão os bois? Será que sumiram dos pastos? Para onde foram se não estão no prato? Em época de vacas magras, do bife a cavalo só restou o ovo estrelado. E dá-lhe Adoniran Barbosa "que é que você trouxe na marmita, Dito? Trouxe ovo frito, trouxe ovo frito". O frango e o porco, para não ficarem para trás, também foram superfaturados. Deu vontade de invadir uma terrinha e criar uns boizinhos. E também umas vaquinhas, já que o preço do queijo também disparou.
No entanto, seja no pasto ou no curral o lucro continua baixo. É claro que há algo de errado nessa história toda. Será que a crise não passa de um jogo extremamente lucrativo para certos setores? Se até mesmo a guerra tem que acontecer para movimentar parte da economia, a crise também se faz necessária. Para alguém ganhar, outro alguém tem que perder. E assim como nas trincheiras, os civis são o que menos importam. O preço no açougue é apenas a ponta de uma grande trama, muito bem enredada, que deixará mortos e feridos. Mas isso é natural numa guerra, não é? Sendo assim, ninguém vai se importar.
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