28/03/2009 - Uma questão de sonho
Enquanto há quem sonhe em ter um estúdio, uma indústria, um restaurante, uma ilha paradisíaca, ele sonhou em ter um escritório. E, sendo assim, há vinte e cinco anos vive das delícias e das dores desse sonho. Não sei se ele se deu conta, mas está completando bodas de prata com o seu escritório. Sua identidade se confunde com uma espécie de pequeno empresário do setor de serviços. Seu nome no letreiro do escritório dá uma sensação de que o sonho existe. No entanto, cercado por papéis e dores de cabeça, hoje já não sabe mais o que fazer com o seu sonho.
Todos sonham ter seu próprio negócio. E ele mergulhou de cabeça nesse imbróglio. Correu atrás do sonho, ergueu-se, venceu obstáculos, só se esqueceu de sonhar outros sonhos. Sonhos também envelhecem e carecem de vitaminas, adubos, recargas. Por mais forte que sejam, sofrem as ações do tempo, que, diga-se de passagem, não são poucas. Durante esses vinte e cinco anos, cada vez que suspendeu ou descerrou aquelas portas que rangem na alma, deve ter se perguntado: e agora?
Quem já o viu andar de um lado para o outro em busca de soluções para o caixa ou se afundar nos papéis que crescem como mato em tempo de chuva sobre sua mesa desconfiou que aquele casamento estivesse por um triz. No entanto, muitos se enganaram. Mesmo com todas as dificuldades, contra a realidade e todos, numa insistência que só pode existir por não querer deixar morrer aquele sonho inicial, ele continua um homem de um sonho só. Um homem de um só sonho e de mil pesadelos.
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