Daniel Campos

Texto do dia

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10/03/2009 - Um novo conceito de sogro

Ele aparece e desaparece do meu cotidiano como um bom mágico, daquele que alimenta o imaginário das crianças e não revela seus segredos. Ele está perto, muito perto, e, quando dou conta, já se vai distante sem deixar vestígios. Impossível rastreá-lo ou prevê-lo, quiçá sabê-lo. Chega a ser meteórico. Perfeccionista e discreto ao extremo, ele faz da vida e de seu viver um constante canteiro de obras. Arquiteto do tempo e advogado do vento, redesenha o mundo a sua volta. Intenso, feito personagem de Chico Buarque, sobe a construção como se fosse máquina e tem os olhos embotados de cimento e lágrimas.

Seja nos andaimes ou nos tribunais, demonstra a mesma firmeza. Até para sonhar é pulso firme. Afinal, seu sonho é seu trabalho. É o homem dos tijolos num desenho mágico e do jus postulandi em um desenho lógico. Temido por muitos e respeitado por todos, esse senhor, de físico atlético, segue, entre passadas e braçadas, sempre adiante, como os trens que cortam os sertões de Guimarães Rosa. Já rodou o mundo e já fez o mundo rodar em torno de si. Enquanto muitos sonham ter uma casa própria, ele tem um mundo próprio. É completamente independente e livre, exceto quando o assunto é sua amada, a qual, mineiramente apaixonado, defende como se fosse o último cavaleiro de uma Távola Redonda.

Mas além de concreto e leis, esse homem é feito de carne e osso. Lê jornal. Toma uísque. Adora tutu de feijão. Vai à missa. E se revira pelo avesso ao escutar um certo piano. E, se preciso for, chora. Porque, como já dizia Gonzaguinha, guerreiros são meninos no fundo do peito. E seja na superfície ou no fundo do peito, ele foge de qualquer estereotipo de sogro criado no decorrer das últimas décadas. Como sempre me refiro a ele quando o coloco nestas linhas, sir Philomeno conseguiu, neste dia do sogro, deixar-me sem chão para escrever uma crônica corriqueira. Afinal, como construtor que é, edificou um novo conceito de sogro. Um conceito que não pode ser decifrado, apenas vivido. Pudera, ele é mágico e mágica não se discute, apenas se admira e se aplaude.


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