22/04/2009 - Terra Mexerica
Borrifos cítricos infestam o ar, no perfume de uma safra que se repete ano a ano. Gotículas de sumo causam verdadeiras nuvens de paladar diante de nossos narizes. Os dedos, instintivos e maliciosos, vão rasgando a roupa bem brasileira, verde-amarela, até chegarem aos gomos que estouram ao dente. E o suco de sabor verão escorre pela língua, pela garganta, pelas entranhas. De quantos gomos é feita uma mexerica? Como instinto não é dado à paciência, a mordida ignora a matemática.
Devorando esse fruto tão simples e misterioso, penso se, no fundo, não somos gomos de uma grande mexerica chamada Terra. Neste caso, ao contrário do caos teríamos nascido da perfeição. Só que, em razão de um grande "boom" espacial, os gomos se desprenderam de seus pares, ganhando vida própria. Mas como não se pode contrariar a natureza, sentimentos como amor e paixão e relações como namoro e casamento são formas de reatar esse laço original. Na verdade, um gomo só existe enquanto mexerica quando ao lado de outro.
Neste planeta mexerica, feito de mexericos, somos gomos de carne, gomos de desejo. Somos gomos de sonhos, gomos de desejo. Somos gomos maduros, doces, verdolengos, amargos. Somos gomos suculentos e gomos secos de tanto viço. Somos gomos ofertados, roubados, comprados... Somos gomos levando sementes em nossos peitos, em nossos ventres, em nossas vísceras. Somos gomos assimétricos e heterogêneos ao mesmo tempo, mas detentores da mesma origem - a terra, a água e o sexo entre flores e abelhas.
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