11/04/2009 - Sou teu Judas
Sou teu Judas, portanto, me vista e depois me dispa como bem desejar. Sou teu Judas, abraça-me e me deixa beijar tua face em segundas intenções. Sou teu Judas, amarra-me no tronco, no poste, no portão da sua casa e me bata, mas me bata com vontade. Ai, bata-me com toda força, com todo ódio, com todo desejo e paixão. Bata-me como quem espanca o próprio pecado... Pecado de amar, pecado de amor, pecado iscariostes, de trinta moedas.
Sou teu Judas e, sendo assim, me xinga, me excomunga, me debocha, me satiriza, me humilha. Ai, amarra-me e me desaprova, me detesta, só não me ignora. Cuspa-me e me morda e me machuca. Prenda minhas mãos, meus braços, meus pés, não me deixa fugir, por favor, não me deixa fugir da sua vida. Sou teu boneco, sou teu fantoche, sou o homem que traiu a solidão ao ficar contigo. Bata-me e se debata nesse amor bíblico, cíclico, etílico.
Sou teu Judas e por falar em álcool, ateia fogo em mim. Entre brasas e fagulhas, incendeia meu corpo com a chama da paixão, do espírito santo, do fiat lux. Queima-me no vermelho do seu batom, do seu lingerie, da sua alma que encandeia. Ateia-me fogo no fogo das suas vísceras, das suas estrelas, da sua ira. Meu corpo queimando do seu corpo; meu corpo queimando pelo seu corpo, meu corpo queimando no seu corpo.
Sou teu Judas, teu Judas, teu Judas, sendo assim, deixa-me trair a tua falta com a tua presença...
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