28/09/2009 - Sobrecarga de si
Por onde quer que vá, eu me carrego e me sobrecarrego. Eu não sossego. Tenho um vulcão dentro de mim. Nasci, cresci e, com certeza, vou morrer com essa angústia de viver, de fazer, de querer. A intensidade tanto me move quanto me consome. Eu tenho fome de mim. Eu não tenho freio. Sou bonito, sou feio. Vou fundo em todas as coisas, das mais simples as mais complexas. Sofro com ou sem necessidade. Quero ter todas as idades. Chego antes, saio depois, ardo em febre. Na fábula da tartaruga, sou lebre. Os sentimentos gritam dentro da minha cabeça enquanto os pensamentos se proliferam como erva daninha.
Trabalho sempre a todo vapor, com ou sem dor. A cada passo, quero superar meu ritmo, dobrar meu compasso. Quero abraçar sol e lua ao mesmo momento. Quero ser vento para varrer toda a rua. Eu não tenho medida. A minha lida é me explorar ao máximo. Quero ver até onde posso chegar. Eu me exijo demais e, no mais, pago caro por isso. E, mesmo doente, não paro. Eu varo noites e dias à procura da perfeição. Viver intensamente é a minha sede. Eu me embrenho em minha própria rede. E não há remédio que seja capaz de curar essa obsessão. Na minha estação, inverno e verão pegam o mesmo trem.
Quando quero, quero mal ou quero bem. Não há meio termo. Tanto meus medos quanto meus desejos são redimensionados a cada segundo. Eu não caibo em meu mundo. Eu não me suporto. Eu estou cheio de mim. Às vezes penso que estou prestes a explodir. Noutras, tenho certeza de que já explodi e não me dei conta. Quero fazer mil coisas ao mesmo instante. E esse frenesi é tão delirante que me faço tão teimoso quão o diamante que insiste em não se quebrar para se libertar de si mesmo. Só quando eu me quebrar ao meio, quando eu me partir em pedaços, de carne e aço, é que terei uma noite de sono tranqüila, entregue ao silêncio e à escuridão.
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