15/04/2009 - Sob o signo da velocidade
O que é certo, o que é errado? O que é verdade, o que é mentira? Seguindo o filósofo alemão Nietzsche, "não há fatos eternos, como não há verdades absolutas". Eis então que o cotidiano está se construindo e se descontruindo a todo momento bem debaixo de nossos narizes. Fica cada vez mais difícil saber aonde pisar, o que fazer, o que dizer. O mundo que neste instante lhe carrega nos braços como herói daqui a alguns segundos pode lhe trancafiar numa masmorra ou lhe botar no tronco. Tudo sempre está por um fio nesta fase em que o planeta é regido pelo signo da velocidade.
Físicos calculam que o mundo gira a mais de 1.500 quilômetros por hora. É a essa velocidade que nosso cotidiano, de 24 horas, está entregue diariamente, noite e dia. Não é a toa que os tempos pós-modernos fizeram cair sobre o mundo uma rapidez extremamente prejudicial a quem nele habita. Antigamente, tudo demorava a chegar, a passar, a acontecer. Hoje somos reféns de mutações, de transformações, de mudanças que não conseguimos assimilar, tampouco vivenciar. É como se o mundo passasse e nós ficássemos cada vez mais para trás. O mundo é a caravana que passa e nós, os cachorros que ficam latindo.
Neste aspecto, tudo é volátil demais, tudo é incerto demais, tudo é instável demais. A efemeridade e a brevidade dão o tom dessa vida líquida, que escorre por nossas mãos. Não adianta procurar regras, cartilhas, bulas ou, sobretudo, a lógica dessa velocidade toda. E a pior parte é que temos de viver mergulhados na incompreensão de um tempo fugaz. As juras de amor eterno são vistas com chacotas e descrédito pelo mundo efêmero. A vida sai de cena e entra no palco o instinto de sobrevivência. Para o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, "o valor, o mais precioso dos valores humanos, o atributo sine qua non de humanidade, é uma vida de dignidade, não a sobrevivência a qualquer custo".
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