Daniel Campos

Texto do dia

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28/05/2009 - Sinal vermelho, esmolas e condor

O vermelho no semáforo vai além de um código de trânsito, é o sinal da abertura de um comércio de bens duráveis e de não duráveis, de cultura, de propaganda, de tragédias, de medo, de corpos e de almas. Pelas janelas, quase sempre fechadas, passam vendedores de balas e chicletes, vendedores de panos de chão e flanelas, vendedores de água e de cabides, vendedores de caquis e vícios, vendedores de bonecos infantis, vendedores de promessas publicitárias, vendedores de sonhos e pesadelos.

Pela fila estreita de carros, passam cadeirantes, homens com muletas, mulheres com crianças atarracadas em suas tetas, homens sem pernas, sem braços, sem dentes e com muitas feridas pelo corpo. Sóbrios ou não, todos eles são filhos da miséria humana. Meninos e meninas de tão pouca idade, mal vestidos e com um português ruim, pedindo, mentindo, exigindo dinheiro. Meninos que trocaram os carrinhos e meninas que trocaram as bonecas pelas ruas, pelas esmolas, pelos sinais vermelhos.

Quando menos se espera, surgem tochas de fogo ou espadas pelos céus. São artistas sem circo fazendo o espetáculo e passando o chapéu de janela em janela. Por falar em picadeiro, são muitos os palhaços que usam da maquiagem para pedir uns trocados. O tempo em que os aplausos eram o bastante acabou. Entre vendedores, artistas e pedintes, a rua se transforma em um palco de horrores. Moedas não matam a fome, quiçá trazem a dignidade de volta a ninguém. No entanto, os sinais vermelhos são das moedas assim como o céu é do condor.

Meu caro Castro Alves, onde está a liberdade dessa gente?


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