22/10/2012 - Silêncio total
Não há nada que não seja silêncio. Não há saltos de sapato estalando pelas ruas. Não há miados de gatos suspensos pelos muros. Não há som de briga de casal pelas casas matrimoniais. Não há choro de criança com medo de assombração. Não há carro algum roncando pelas vias. Não há rezas de padre-nosso ou ave-maria pelas horas escuras. Não há trovões ou disparos de canhões. Não há uma velha amaldiçoando quem passa. Não há qualquer rangido de porta ou janela. Não há donzelas ou mocinhas gritando por socorro. Não há vestígio de música nos rádios ou nos peitos dos seresteiros.
Não há o escândalo de uma traição. Não há explosão de paixões inflamáveis. Não há suspiro algum nos becos. Não há gemidos por parte da lua, tampouco soluços nas pontas das estrelas. Não há telefones chamando por alguém. Não há rugido de adeus. Não há declarações de amor. Não há fogos de artifício. Não há latido de cachorro vira-lata. Não há o estalar de um beijo sequer. Não há conversa de botequim. Não há ciranda da molecada. Não há pedidos de misericórdia. Não há coaxo de sapo ou palavras mágicas pelos brejos d’alma. Não há nada que não seja silêncio.
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