Daniel Campos

Texto do dia

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15/06/2009 - Servo das palavras

Meu pai queria que eu estudasse para concurso público, no entanto, fui escrever poesia. Deu no que deu. Hoje, poderia ser gerente de banco, procurador da República, juiz, delegado de polícia, oficial de justiça, diplomata. Poderia ter estabilidade, um salário certinho no fim do mês, uma série de benefícios e direitos, um planejamento operacional... Porém, contrariando o senhor meu pai, eu optei por um mundo instável, aventureiro, repleto de mistério e sedução. Posso dizer que entre o sol e a lua, escolhi viver o eclipse.

Ao contrário de relatórios formais, escrevo versos. Ao contrário do mesmo do mesmo do mesmo, minha caneta dá à luz ao inédito. Ao contrário de trabalhar em uma sala apertada, lotada de colegas engravatados e de tailleur, trabalho na mais completa solidão. Eu, as palavras e a musa das minhas canções. Ao contrário de ter relógio de ponto, optei pelo tempo psicológico, emocional, surreal. Ao contrário de falar juridiquês, economês, inglês, converso na língua dos sentimentos. Ao contrário de timbres oficiais e pautas, minhas folhas são virgens.

Graças aos céus, troquei os livros técnicos por Vinícius de Moraes, Pablo Neruda, Guimarães Rosa. Eu troquei os almoços executivos por colheradas na boca. Eu troquei a rotina pelo imprevisto, pelo universo que se descortina ao fundo da retina. Eu troquei a construção pela descontrução do mundo. Eu troquei as avaliações de desempenho pelo brilho nos olhos de quem me lê. Eu troquei o cargo real por uma dimensão paralela, onde a ficção fala mais alto do que a realidade. Eu troquei uma carreira de Estado por um estado constante de paixão.


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