27/01/2009 - Sábados verdes
Massa? Carne? Torta? Na verdade, queria uma salada daquelas, mas... A alface está melada. A couve está toda amarela. O almeirão está duro. O cheiro verde não tem cheiro. A chicória não veio. Da rúcula, sobrou só o amargo. Tudo tem gosto de agrotóxico. Tudo tem gosto de praga. Tudo está paladarmente modificado. E modificado para pior. Bons tempos em que um verdureiro negro de sobrancelhas brancas, que não tinha nome nem origem, andava pelas ruas com sua carrocinha verde-água e terra.
Nas rédeas da manhã de sábado, o verdureiro trazia um cavalo branco, judiado pelo tempo, e um chapéu de palha, maltratado pelo sol. Ele estacionava na frente da casa de minha avó, dona Adélia, amarrava o cavalo em uma quaresmeira e tirava o encerado de cima das verduras. Um verde de encher os olhos. Tudo colhido há pouco, no sítio de um italiano perto dali. Sem pestanejar, a vizinhança aproveitava para fazer a feira da semana sem se dar conta da beleza e do valor daquele momento.
O dinheiro das vendas não ia muito longe. O cavalo, amarrado na sombra, chegava a cochilar esperando o verdureiro que tinha rumo certo - o bar da esquina. Tomava umas branquinhas e, lá pelo sol do meio dia, o cavalo branco, que já ia meio amarelado de sujeira e velhice, o levava para casa. Por sorte de quem queria comprar verdura no próximo sábado, o cavalo não bebia e sabia o caminho como ninguém. Porém... Um dia o cavalo não voltou e minhas saladas nunca mais foram as mesmas.
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