Daniel Campos

Texto do dia

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01/05/2009 - Quinze anos depois

Há exatos 15 anos o mundo perdia Ayrton Senna da Silva, um dos maiores pilotos de Fórmula-1 de todos os tempos. Hoje é sexta-feira, mas sua morte chegou mesmo foi em um domingo. Eu consigo me lembrar perfeitamente daquele dia, mesmo querendo ter esquecido tudo. Por sorte ou azar, ainda não sei, o destino quis que essa data (primeiro de maio de 1994) nunca saísse de mim. Virei um viajante do tempo no assunto Senna.

Ao longo dos anos, guardei tudo o que dizia respeito ao episódio. E mexi e remexi esses guardados como um detetive o faz com pistas. Na verdade, nunca sosseguei. Tampouco dei descanso a Ayrton. E tudo isso em razão de não ter engolido a história do acidente. Não, não foi um acidente. Depois de anos de investigação, posso afirmar que o tricampeão foi morto, ou melhor, assassinado.

E não foi um crime instintivo, mas um ato premeditado. Homicídio doloso. E não existe só um culpado, mas vários. Senna foi morto por uma trama, um conjunto de ações e fatalidades, um trabalho minucioso de uma conspiração. No livro "Conspiração Tamburello" eu revelo os bastidores dessa operação que culminou na morte do brasileiro. Em breve, essa obra, recheada de mistério e poesia, estará a sua disposição. Isto é, se você quiser voltar 15 anos no tempo.

Por hora, pode degustar, como aperitivo, a introdução do livro "Conspiração Tamburello".


Introdução

A causa exata do acidente fatal de Ayrton Senna no Grande Prêmio de San Marino, no dia primeiro de maio de 1994, talvez jamais seja conhecida. Talvez por não ser apenas uma, mas várias as causas que o vitimaram. Talvez ainda pela sua morte não ter partido de um acidente, mas de um crime que uniu o céu, a terra e o inferno em uma grande conspiração. Por quinze anos a conspiração Tamburello ficou escondida. Agora, está prestes a ser revelada.

Você acredita em conspiração? Segundo o dicionário, conspiração é uma trama, um conluio, um concurso de causas ou circunstâncias. Conspirar vem do latim conspirare, que significa literalmente trabalhar coletivamente para obter um fim. Na prática, um grupo de pessoas ou de organizações manipula um evento ou vários eventos para obter um determinado resultado. Desde os primórdios da história, há conspiração. Para confirmá-la é necessário que haja uma teoria supondo que um grupo de conspiradores está envolvido em um plano e suprimiu a maior parte das provas, até mesmo seu envolvimento nele.

Todos os dias há dezenas, centenas, milhares de conspirações de maior ou menor relevância sendo executadas em todo o mundo. Também são chamadas de encobrimento, pois são secretas e escondidas do domínio público. Muitas já foram identificadas e provadas. Uma vez demonstrada, uma conspiração deixa de ser uma teoria. Assim, as teorias da conspiração estão necessariamente por confirmar. E a causa da morte de Senna está por confirmar.

A Fórmula-1 é um esporte marcado pela velocidade e pelo barulho. Os carros voam baixo e os motores roncam alto. No entanto, as investigações sobre a morte de Ayrton Senna associaram barulho à vagarosidade e silêncio à velocidade. Muito foi dito, mas a justiça à medida que considerava alguém culpado, o absolvia logo adiante. A discussão se alastrou, o inquérito foi arquivado e reaberto muitas vezes, provas foram ocultadas, o crime prescreveu e ninguém foi para a cadeia. Hoje, todos estão de boca fechada, tentando jogar pás e mais pás de cal sobre esse assunto.

Durante as investigações sobre a morte de Ayrton, a justiça italiana trabalhou com três possibilidades -as condições da pista; as medidas de segurança do autódromo e a parte mecânica do carro. Mas havia uma atmosfera diferente naquele primeiro de maio de 1994, em Ímola. Uma tensão e uma angústia iam além da disputa em si. Antes da largada, a imagem do piloto, já no cockpit, arrumando a balaclava - com uma expressão melancólica, ficou em minha mente. Algo parecia aguçar meu sexto sentido...

Essa tensão não poderia ser explicada por nenhuma daquelas investigações italianas. Elas complementavam, mas faltava algo. Além dos fatos envolvendo carro, pista e regras de segurança há de se considerar os astros, o momento pessoal de Senna e os inúmeros interesses envolvidos. Seis causas. Seis causas que não explicam o acidente de Senna separadamente, mas que juntas arquitetam sua morte. E seis é o número da besta. Mas a besta não é o demônio em si, aquele sujeito vermelho e chifrudo, mas um carro mal feito, uma pista insegura, regras absurdas, um esporte cada vez mais comercial, um Senna descontente, uma lua cheia...

Para tentar explicar o que aconteceu existem muitas hipóteses. A mais aceita é a da ruptura da barra de direção, reformada, de última hora, supostamente a pedido do piloto. A equipe Williams insiste até hoje que essa ruptura se deu após o choque. A tese dos advogados da equipe engloba os pneus. Uma súbita perda de pressão, aliada à fraca aderência causada pela falta de aquecimento teria prejudicado o trabalho da suspensão, tirando Senna da trajetória. Há quem culpe a pista, as mudanças nas regras do campeonato, a sujeira...

Uma outra hipótese culpa o próprio piloto. Sob pressão e com um carro que não rendia o desejado, Senna ultrapassou os limites, do bólido e da pista, e errou. Como agravante estavam os fatos de Senna desconfiar que a principal rival, a Benetton de Michael Schumacher, fazia uso de recursos eletrônicos proibidos e já ter extrapolado o desejo de vencer, rodando na corrida do Brasil. Finalmente, há ainda os que crêem que Senna simplesmente se matou. Mas contra essa hipótese existem a telemetria, que acusou que o piloto teria freado antes de bater, e uma bandeira da Áustria, que foi encontrada no carro, com a qual Senna, teoricamente, homenagearia Ratzenberger. Ou será que a bandeira foi plantada lá por algum terrorista austríaco para assinar o assassinato?

A morte na pista choca pelo fato de colocar um ponto final em um dos maiores pilotos de todos os tempos, mas não surpeende. Morrer acelerando, ultrapassando limites, desafiando a velocidade, liderando uma corrida foi um desfecho lógico para alguém que tinha a trajetória e o espírito de Senna. O que intriga é que não foi um simples acidente. Se o fosse, este livro não existiria. Algo além do natural e do óbvio aconteceu naquele dia primeiro de maio.

Você já ouviu a frase: "o universo conspirou a favor de"...?

Um projeto não confiável, uma engenheira arriscada, um carro inguiável, vários rivais dentro e fora das pistas, um amor proibido, premonições, segundas e terceiras intenções, ondulações, trepidações, rachaduras, um diretor de prova na hora e no lugar errados, pressões da imprensa, a roda do dinheiro girando, girando, girando, alguns acidentes, omissão de socorro por longos segundos, o santo do dia, um circuito ultrapassado, os gritos de "acelera, acelera", inúmeras negociações fora das pistas, repreensões, o desejo de vencer, o passado do circuito, frases soltas no ar, combinação de astros, predileções e favorecimentos são alguns dos elementos que integram essa história de amor e ódio, de segredos e intrigas, de risos e lágrimas que dão vida a uma verdadeira conspiração batizada de Tamburello.

Cada um desses fatos teve uma participação na morte de Senna como elementos que tecem a teia da Conspiração Tamburello.


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