Daniel Campos

Texto do dia

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14/01/2009 - Que toquem os sinos

O entoar de um sino semeia, em suas dobras, sensações antigas e desconhecidas pelo nosso campo físico e psicológico. Que os cientistas e filósofos protestem, mas o coração me diz que, entre sinais e sinaleiras, há o sino das capelas que já não tocam mais, o sino dos cabritos que pisam o sertão, o sino de boas-vindas das casas de antigamente. Cenas de um romantismo difícil de ser encontrado e, principalmente, vivido. Os sinos e os meninos e os destinos e os alevinos e os hinos e os pinos da minha cabeça se dobrando aos sinos.

Mas há um sino badalando em mim, em meus ouvidos, ecoando pelos ares como gemidos de um prazer perdido, quase esquecido. O sino, que se dobra entre montanhas de desejo e verde, por caminhos não caminhados, está pendurado na porta de um restaurante colonial. Atrás de um burrico que leva em seus cestos buquês de pimenta, daquelas que deixam a comida mais sedutora, o sino badala entre paredes brancas e portas e janelas tão altas quão azuis. Não importa de quem são as mãos que o tocam, mas os olhos que a ele se dobram.

Mais do que qualquer almoço que possa ser servido naquelas mesas de madeira espessa e velha, o sino desperta um estranho apetite em nossos estômagos e cérebros e artérias emocionais. Diante daquele sinal, o corpo é um imenso ouvido e a boca se entrega à água do desejo. Lenha avermelhando no fogão, o tempo girando em relógios de sol e o mato fresco temperando o ar. Definitivamente, que toquem os sinos, que toquem os sinos, que toquem os sinos.


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