11/04/2008 - Que importa a velhice?
"Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação".
E agora Carlos Drumonnd de Andrade? De que adianta não morrer e viver sem mistificação alguma se nossa velhice foi sucateada. Nossa velhice não é mais direito, é humilhação. Do jeito que as coisas andam, pouco importa ao Estado o Welfare State, ou seja, o bem estar de seus cidadãos idosos.
Se por um lado, meu nobre poeta, a expectativa de vida aumenta e existe uma forte campanha por hábitos saudáveis lá fora... De outro, coloca-se a aposentadoria nas mãos dos que ainda brincam de roda. Isto é, rodam e rodam na ciranda financeira. E nessa ciranda, o mundo pesa e pesa muito sobre os nossos ombros. Hoje a velhice muito importa, e temos medo, preocupação, angústia e outros tantos sentimentos que depositam sobre nossos ombros o peso da insegurança.
Se a vida é obrigatória, temos de ir em frente, caminhar. O problema é a falta de dignidade que nos espera na reta final da estrada. A saúde pública não está preparada para um país idoso. O transporte público não está preparado para um país idoso. O setor habitacional não está preparado para um país idoso. Aliás, o governo nunca se preparou para o país da terceira idade.
No entanto, muitos aposentados sustentam famílias com o salário que recebem. E diga-se: salário mínimo. Só mesmo no Brasil para aposentadoria virar renda. E pior, quantos já passaram da idade de receber esse benefício e, barrados pela burocracia do INSS, não tem nem isso para comer. Será esse o futuro de um país que se diz futura potência? Pois bem, respondo com outra pergunta: que importa a velhice?
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