Daniel Campos

Texto do dia

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27/05/2009 - Procura-se um sorriso

O mundo rodou, outro dia já nasceu e o sorriso ainda não voltou. Folhas de outono. Vento de inverno. Tudo é tão seco e cinza lá fora que eu preciso descortinar uma outra realidade através de seu rosto. Mas as janelas de sua fronte estão fechadas. As árvores estão nuas, mas tão brutas em sua nudez que causam espanto. Quantas lágrimas serão precisas para rolar as pedras do seu olhar de pedra?

O seu hálito anda tão áspero quanto brisa de invernada, a ponto das palavras já saírem armadas, prontas pra ferir e serem feridas. A fome de esperança aperta enquanto a boca seca ao medo da frase ou do gesto seguinte. O coração, como almofada de costureira, é cravejado de pontas. Tudo tem sido tão diferente, tão de repente, tão ausente como chuvas agostinianas. Não saber o seu sorriso arde mais do que sol sertanejo. Eu lhe olho, lhe olho, lhe olho e não me vejo.

As sementes não vingaram. Os corvos azarentos estão na espreita. Sonhos de criança choram de fome. E não há nada a fazer se a deusa da fertilidade insiste na face embrutecida. Não há flecha de cupido capaz de perfurar o cerne que guarda os seus eus. A sua estiagem de agora castiga, intriga, briga com o tempo em que desérticos eram apenas os vazios de sua ausência. O mundo rodou, outro dia já nasceu e o seu sorriso ainda não voltou.


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