25/04/2009 - Pra lá de Bagdá
Quando o silêncio parece ter forças para caminhar sozinho, uma explosão o joga novamente ao chão. Nem a morte de Sadam Husein, nem a eleição de Barack Obama, nem a retirada dos soldados estrangeiros, nem os apelos de ídolos e celebridades conseguiram dar um pouco de paz ao Iraque. Nos últimos dias, nada mais nada menos do que 70 pessoas morreram em atentados suicidas no Iraque. Somente 45 foram mortos em um restaurante. E não é falta de fé, a maioria dessas pessoas se dirigia até a cidade sagrada de Kerbala, ao sul de Bagdá.
As guerras acabaram gerando uma cultura de suicídio no Iraque. É como se a vida de um iraquiano não valesse mais nada e, como o sonho de ser cidadão está inviabilizado, preferisse se tornar um homem-bomba. É muito mais fácil alguém que ficou sem emprego, família, casa, honra, sonho, amigos perderem do que ganharem a vida. E os que optam em não explodir, por medo da morte ou por acreditarem que ainda vale a pena continuar na labuta, correm o constante risco de sangrarem vítimas de um ou outro atentado.
Que geração é essa marcada para morrer? Quão triste é ser iraquiano nos últimos tempos. É triste viver sem nada, com medo de tudo e de todos, carente de perspectivas e apoios... Imagino as mulheres grávidas, que carregam suas barrigas de explosão em explosão. Imagino as crianças recém-nascidas recebidas pela iminência da morte. Se existe morada para o adeus seu endereço deve ser Badgá. Que o silêncio possa ser restabelecido no Iraque. Não o silêncio do sepulcro, da despedida, da impotência, mas o silêncio da tranqüilidade e da paz.
Se é que, por natureza, iraquiano e paz possam viver e conviver em paz.
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