29/06/2009 - Poeira
A poeira tomou conta da cidade. A poeira está nos móveis da sala de estar, nos bichos de pelúcia da menina, no carro esporte, no estetoscópio do doutor, no beijo dos namorados, na água do copo, no canto dos pássaros, nas dobras do lençol e nas páginas do livro, empoeirando os atos e fatos das personagens. Ontem à noitinha, deu um pé de vento. Só que ao contrário de gafanhotos famintos ou de um novo vírus da gripe, o vendaval trouxe poeira, poeira, poeira, ou seria, areia do deserto de Aladim, Ali-Babá e Alá?
Será que aquela poeira toda eram os restos dos corpos de Cleópatra e seus amores, amantes e víboras? Será que aquela poeira toda eram os restos das mulheres do sultão? Será que aquela poeira toda eram os restos dos camelos que não encontraram seus Oasis? Será que aquela poeira toda eram os restos dos povos bíblicos, que cruzaram desertos de areia ensinando e lutando, resistindo e sonhando, tentando e mudando o mundo?
A poeira se instalou nos afazeres, nos dizeres, nos quereres ao ponto de ser decretado estado de sítio. E chamar quem? A defesa civil, os bombeiros, os fuzileiros? É tanta poeira que o amor cavou sua própria trincheira. E poeiras são o áspero, o tempo que jaz, o que morreu e não ficou pra trás. Poeiras são negativas, oitivas de azar. Será que depois da poeira o vento trará o mar? É preciso tirar a poeira dos pensamentos, dos corações e, sobretudo, das canções, que empoeiradas, já não cantam mais suas paixões.
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