Daniel Campos

Texto do dia

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25/09/2009 - Pequizeiro, encanto e medo

Pelas ruas que me levam até a nova casa há uma infinidade de pequizeiros. Eu, como paulista, nunca tive intimidade com essa árvore. Tanto que fui conhecer o fruto, há poucos anos, antes de conhecer a sua maternidade. Um pé de pequi é tão curioso quanto seu fruto amarelado. As folhas são largas e recortadas por pontas, o tronco é tortuoso, crescendo num desenho cheio de curvas, seus galhos são desorganizados e suas flores são repletas de pistilos brancos como um vestido de noiva.

Em muitos casos, ao contrário de visar o céu, o tronco cresce junto ao solo, numa geometria horizontal, servindo de brinquedo para crianças. E quando chega a chuva de setembro, as flores, divorciam-se dos frutos, cobrindo o chão numa delicadeza sertaneja. Diante de tanta beleza, os pés desviam-se das calçadas e as caminhadas ganham as ruas só para não machucar as flores, cujas pétalas nascem como espinhos.

É com este espírito de brincadeira que, o pequizeiro, gera a carne amarela que esconde espinhos fatais. Sendo assim, não é abuso dizer que um pé de pequi lembra uma viúva negra. O encanto e o perigo num mesmo corpo, num mesmo galho, num mesmo fruto. E, na maioria dos casos, a paixão despertada pela árvore supera o medo. Os caminhos que hoje estão vazios, na beleza solitária das flores caídas, logo estarão cheios de mãos carregando frutos verdes que, na panela, hão de sangrar amarelos.


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