30/04/2009 - Pão de poesia ou poesia de pão
Eu, mendigo de sentimentos, esmolo um pedaço de pão com a mão estendida ao dia e à noite, mas não é um pão feito de trigo o que peço, porém um pão sovado em poesia. Ah! Se todos os que mendigam pão mendigassem poesia os rumos seriam outros, os começos e os desfechos seriam comestíveis e sensíveis ao mesmo tempo. Mas quem é que nos dias de hoje consegue trocar o pão pelo verso? O estômago fala mais alto, os olhos são cada vez mais gordos, a gana saliva à boca e o coração, como operário sem voz, sufoca-se em seus dramas.
Ah! Como o mundo seria melhor se a poesia fosse servida em todo desjejum, ao lado de uma xícara de café. Poesia de sal e de doce, poesia de bengala, fresquinha e francesa, poesia mais branquinha ou mais moreninha, para todos os gostos, poesia caseira, feitinha a mão, poesia fermentada ou a moda árabe, poesia em fatias com manteiga da roça, ou com geléia vermelha ou com queijo minas. Poesia de véspera, amanhecida, dormida. Poesia dourada em fornadas.
Poesia de minuto, de forma, de centeio, recheada, assada ou frita. Poesia quente, cheirosa e insinuante. Poesia integral, poesia de mistura, poesia de coração, poesia de batata, que se esparrama em ramas pelo chão como menininha quando nasce. Ah! Se todas as bocas, se todas as línguas, se todos os dentes desejassem a poesia como desejam um pedaço de pão o noticiário dos jornais seria outro, assim como as chegadas e partidas dos trens do destino.
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