06/07/2009 - Olhos de sal
Se você já cansou de chorar, enxuga os olhos com um lenço branco, como que levando um toque de trégua à dor, e sai. Sai à janela, sai ao jardim, sai à rua em busca de outras ruas. Não se interne no quarto. Afinal, a vida tem de ser vivida por inteira e não apenas em um de seus quartos. E quando vier o primeiro vento, por favor, peça-o para soprar de seus olhos, de seu lenço, de suas memórias todas as lágrimas, de modo que as transforme em sementes do amor que agora sente. Tente.
Remoer é doer múltiplas vezes. E doer não faz bem para o físico, para o psíquico, para o emocional. Doer por querer é o cúmulo do mal que você pode fazer a si próprio. Doer é um caminho inócuo que não leva a nada ou ninguém, nem mesmo ao sonhador. Por isso, não seja um doedor. Saia da barra da saia do destino que criou quando menino. O mundo cresceu e agora você precisa viver seu novo eu, seja ele nobre ou plebeu. Quem chora demora mais a aprender que o sofrer só atrasa o bem-viver.
Tira os óculos escuros e deixa suas olheiras expostas às caldeiras do sol. Pássaros não cantam à escuridão. E pássaros são vidas que batem asas. Há tantos sinais a seguir. Basta olhar a sua volta e ver o mundo se redimir a cada nova volta, a cada nova nota, a cada nova porta. Nada é estático. Tudo é prático, mesmo que emblemático. Se lágrimas fossem bem-vindas não teriam sal. O sal arde, o sal queima, o sal castiga, o sal teima, o sal abriga os tubarões. E tubarões devoram paixões.
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