26/04/2009 - O último exorcista
Assim que coloquei meus pés na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro uma sensação estranha me invadiu. E não foi de lembrar das novenas de quarta-feira na Matriz ou do pergaminho azul e branco com a oração do socorro perpétuo pendurada na sala do escritório de meu pai. Ao contrário de lembranças, o que me invadiu foi o futuro da ausência. Uma sensação de falta foi me percorrendo de cima abaixo. Padre Júlio Negriozzolo havia morrido.
Mesmo meses depois de seu falecimento, eu ainda esperava encontrá-lo, prostrado naquele seu jeito contemplativo, naquele ambiente sacro e misterioso que lhe caía tão bem. Mas isso não aconteceu. Antes de continuar o texto, vale dizer que padre Júlio era um dos únicos, senão o único, exorcista brasileiro reconhecido pelo Vaticano. Histórias incríveis lhe rondavam. Mas ele preferia não falar. Era uma figura calada, porém de uma enorme simpatia silenciosa. Depois de combater o mal por quase seis décadas de sacerdócio, seu corpo dava sinais de cansaço. Tinha dificuldades de locomoção, mas mesmo assim não ficava sem atender quem necessitava de seus préstimos.
Sem alvoroço, chegava pelos fundos da Igreja de cadeira de rodas. Depois de se preparar, atendia os necessitados em uma salinha modesta. Tive contato com ele por duas vezes. A primeira, depois de esperar por mais de quatro horas em uma fila imensa no subsolo da Igreja, em um local destinado a confissões. Uma multidão esperava para conversar com Padre Júlio. Passei a tarde toda daquela terça-feira à espera de uma oportunidade. Faltando poucos minutos para encerrar os atendimentos do dia, consegui chegar até ele. Confesso que tremi. Depois da conversa, ele sorriu e me pediu para voltar no dia seguinte, às 11h, na novena da libertação onde praticava rituais de exorcismo.
Sai mais leve, porém intrigado com aquele sorriso misterioso do padre. Ficou algo por se descobrir. No dia da novena, depois de escapar do trabalho, estava eu novamente naquela paróquia, só que agora na nave da igreja, portando água e sal grosso. Ambos me foram recomendados para a benção. A Igreja lotada. Mesmo chegando muito antes do início da celebração, consegui um lugar somente no penúltimo banco. Conforme a novena avançava, fenômenos estranhos aconteciam fora e dentro de mim. Na cadeira de rodas sobre o altar, padre Júlio empunhava uma cruz e dizia palavras fortes em línguas conhecidas e estranhas.
Fui embora com a promessa de voltar. Meses e meses se passaram e a morte de Padre Júlio chegou antes do nosso reencontro. Hoje, naquele espaço dedicado a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, resta apenas a materialização de sua ausência. Já em mim, sobrou o sorriso enigmático do Padre Júlio e o crucifixo que levo no pescoço, bento por um dos últimos exorcistas da história.
Comentários
gostaria de ter uma possibilidade de visita ao meu lar onde suspeito que meu filho esteja sobre influencia de algum tipo de horda, que estao gerando inumeros conflitos e senti muita energia ruim em um determinado local da casa. gentileza entrar em contato para saber se é possivel este tipo de apoio. telefone 021 81754334
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