23/01/2009 - O todo do tudo e o tudo do todo
Sobras de mim. Sobras de jardim. Sobras de luar. Eu aqui. Eu ali. Eu acolá, na galha do jacarandá lilás. E aparentemente tudo é festa na brisa que divide o mundo entre o ar e o mar. Aparentemente... Olha as formigas fazendo intriga para ver quem lidera o pelotão. Olha as abelhas sobrevoando as telhas do meu pavilhão. Olha as focas fazendo fofocas sobre a nossa união. E as flores vão confessando amores aos louva-deuses. E eu, em sobras, sigo a trilha dos adeuses.
É desesperador pensar que cada beijo dado é um beijo a menos a se dar e a se encontrar. E quem fecha essa conta? Onde está o garçom do universo? Será que está no céu ou no mar ou nessa terra que promete, mas demora a chegar? Olha as folhas que caem. Elas não voltam às árvores. Olha as águas que passam. Águas que descem jamais sobem o rio. Olha as sobras de mim, do jardim, do luar... Será que elas ainda serão algo além de sobras?
Eu quero ser, pra sempre, inteiro do meu e do seu eu. Nada de pedaços, de migalhas, de farrapos... Eu quero o todo do tudo e o tudo do todo. E mesmo se alguma parte de mim se perder pelo caminho e se eu tiver de seguir mutilado de carne ou sonho há de sobreviver o todo desse amor. Um lírio só é lírio se suas pétalas permanecerem juntas. Uma estrela só é estrela se suas pontas permanecerem juntas. Um piano só é piano se suas notas permanecerem juntas. Caso contrário, a primavera não chegaria, a noite escureceria e o silêncio, pra sempre, reinaria.
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