Daniel Campos

Texto do dia

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30/01/2009 - O sapato rosa

Ninguém poderia pensar que um sapato de plástico rosado, com detalhes brancos e cheirinho de morando, causaria tanta confusão. Mas causou. Tudo começou quando sua mãe encontrou dia desses um sapato de boneca, caído e solitário, em meio a um corredor de tantos pés 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41... o sapatinho deve ter gerado muito pranto nos olhos da menina que o perdeu. Aquela mulher esqueceu-se um pouco do serviço e procurou, procurou, procurou, mas não encontrou nem as lágrimas da tal menina, tampouco alguma boneca descalça. Sem saber o que fazer, levou o sapato para casa na esperança que alguém ainda lhe perguntasse por ele. Porém, nunca imaginou que essa pessoa seria sua filha. Sua filha? Bem, esta merece um parágrafo a parte.

Ela tinha dois anos e algumas semanas, mas, sentimentalmente falando, comportava-se como gente grande. Da sua forma criança de ser, amava, sorria, vivia intensamente. Adorava brincar, desde que fosse a dona da brincadeira. Vestia e despia bonecas como se fosse mãe delas. Uma mãe zelosa, mas sem muita paciência. Seja uma roupinha nova para sua boneca ou companhia para brincar, conseguia dos pais tudo o que desejava, nem que para isso precisasse fazer beicinho, olhinho tristinho e chorar copiosamente. Manhosa como ela só, Eduarda, ou a pequena Duda, tinha asas cor-de-rosa e unhas prontas para grandes e doloridos beliscões, que latejavam a carne.

Depois de saber quem é Eduarda, vamos voltar à história do achado. Seu pai viu o sapato, gostou e, louco para agradar, foi mostrá-lo para a mocinha. Diante daquele mimo cor de rosa, colocou os dedinhos na bochecha e começou a movimentá-los num vai e vem constante, típico de quem arquiteta algo. Depois da sentença de seus pensamentos, a menina começou a chorar e a bater no pai, dizendo que ele havia roubado o sapato de uma de suas bonecas, apelidada de "zoião". Com voz firme, queria o outro pé do sapato a qualquer custo. Não se conformando com as explicações do pai, saiu experimentando o sapato no pé de todas as suas "filhas". Para ela, o sapato de Cinderela era rosa e de plástico. E ninguém era louco ao ponto de dizer o contrário.


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