Daniel Campos

Texto do dia

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29/05/2009 - O que deseja de mim

Eu não sei o que quer de mim, mas eu estou aqui. Não tenho nada além da vida que carrego em minhas costas, como casa e caracol. Foram tantos passos dados. Foram tantos sonhos lançados. Foram tantos versos gerados. Dez anos vivendo de poesia em poesia, ei-me aqui, braços abertos como um redentor sem corcovado. Tenho muitos olhares. Tenho muitos lugares. Tenho muitos bares em meus copos vazios. Bebi tantas luas e sóis que agora eu lhe vejo nua em meus lençóis.

Sou pássaro esperando suas asas para voar. Sou semente esperando seu sopro para procriar. Sou vela esperando sua chama para lhe adorar. O que eu faço é lhe esperar e amar, dia após dia, colocando a poesia no fio da navalha, no pico de uma hemorragia. Eu amo. E amo demais. E no mais eu já vivi tudo isso em um tempo que não se compreende em relógios ou calendários. Eu sou o futuro do pretérito imperfeito vivendo seu amor-perfeito. Temporalidades à parte, eu estou aqui, à espera e esperança.

Não sei o que quer, mas estou aqui, sem lanças ou armaduras. Estou à disposição para um poema épico, trágico ou lírico. Tudo depende da forma que chegar e me abordar. Eu não sou dono de sua poesia, mas sou eu quem rege suas fantasias pelos caminhos que bem quer. Sou a raposa e as uvas do seu caminho. Pode me iludir no seu sangue, no seu vinho. E eu, mesmo lhe encontrando todos os dias, olhos nos olhos, não sei o que deseja de mim. Sou seu homem, seu escravo, seu poeta e, sobretudo, sua alma inquieta.


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