Daniel Campos

Texto do dia

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20/10/2009 - O presidente, o horário e o verão

Presidente, eu não sei se o senhor reparou, mas a última segunda-feira foi um dos piores dias de crise de todo o ano. Crise de sono. A força da preguiça superou em muito a força de trabalho da nossa gente. Houve uma tremenda invasão de olheiras pelas ruas. Muita gente acordou atrasada, saiu de casa sem tomar café numa correria danada, aumentando o índice de famintos e o número de acidentes de trânsito. Pudera, o relógio é impiedoso. O primeiro dia útil do horário de verão foi caótico. E pior, nem é verão. É primavera. É primavera com chuva de inverno e vento de outono.

Liguei os jornais, li o rádio e folheei a televisão, mas não o encontrei em lugar algum dando qualquer explicação. Milhares de brasileiros foram vitimados pelos bocejos e o senhor, simplesmente, silenciou. Uma hora foi roubada bem debaixo de nossos narizes e o senhor não disse nada. Uma hora pode parecer ninharia diante das 24 ou da proporção temporal que os impostos levam de nosso suor físico e intelectual, porém a ausência desses 60 minutos é coisa a ser pensada, discutida, trabalhada. Aliás, isso deveria ser assunto de polícia, de Supremo Tribunal Federal, de CPI...

O senhor, que passou o final de semana em Brasília sem compromissos oficiais, talvez não tenha pensado que 60 minutos a mais num domingo podem ser vitais para o começo de um relacionamento; para se dar um novo nascimento; para a feitura de um novo poema; para se encontrar uma maneira de sair do vermelho; para a cura de uma depressão; para caber mais um gol no placar; para descobrir um novo caminho e, quiçá, se redescobrir; para amar um pouco mais... E tudo isso refletiu direto na segunda-feira, na capacidade de criação, de superação, de nação do povo brasileiro, que acordou mal-amado, com mal-estar e de mau humor.

Pudera, ao decretar a continuidade desse inconsequente horário de verão, o senhor roubou de nós algo que nem ao menos pode ser calculado... Mas não se preocupe, o tempo se encarregará de fazer essas contas levando em conta a economia de luz e o tempo que esse roubo nos deixou no escuro... Mas, repito, não se preocupe, afinal, a mente esquece, o corpo se acostuma e sua popularidade continuará em alta independentemente de horários e verões.


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