02/02/2009 - O peso pesa pesado
O peso pesa pesado sobre as minhas costas encurtando meus passos, encurvando minha coluna cervical, chamando-me para mais perto do chão. Mas de onde vem tanto peso? Será de Marte, da segunda-feira, da rotina, dos sonhos não realizados, de um passado que não quer ficar para trás, de dores alheias, de problemas e preocupações, de expectativas que estão sempre para chegar e nunca chegam. Será de pedra? Será de concreto? Será de carne o peso que monta em meus ombros? E eu, cavalo de mim, vou sem cela ou ferradura, troteando xucramente pelas ruas que passam e não me dizem nada.
Será que o fardo que levo é feito de pensamentos ou sentimentos? Seja qual for a resposta, seu peso pesa pesado sobre meu corpo cansado mexendo com minhas circulação, pressão, pulsação, além de veias e artérias e tendões com nomes difíceis de soletrar. Meus pés têm alguns calos. Meus braços têm alguns vergões. Minhas costas têm alguns nós difíceis de desamarrar. Nós de marinheiro, de escoteiro, de bombeiro ou de algum malandro que resolveu me pegar para Cristo. Será que o que levo sobre minhas costas é meu próprio calvário? Como ele pesa. Ah! Deus, grande Deus, perdoai os nossos pecados.
É como se uma castanheira tivesse nascido em minhas costas. Uma castanheira imensa, centenária, que precisa de muitos homens para abraçar sua circunferência. Mas eu não quero abraçá-la, quero derrubá-la. Onde estão as motos-serra, os machados, os tratores? Não, parem! Eu não posso colocá-la no chão. Escute o canto dos pássaros que vem de suas galhas. Sou eu cantando ali, em vários tons. Eu habito essa castanheira. Se fosse matá-la, matar-me-ia também. Não adianta fugir, esse peso que pesa pesado sobre as minhas costas sou eu. O corpo magro e a alma obesa, transbordando sonhos e esperança.
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